quinta-feira, 30 de julho de 2009

Descoberta

Me perdoem os que já conhecem, mas não resisti à idéia de partilhar com vocês minha descoberta, ou melhor, uma amostra dela. Tks Igor!


sábado, 25 de julho de 2009

Da herança que eu posso deixar


Amo elogios (e quem não gosta?!), mas aqueles sinceros que, por isso mesmo, estão cada vez mais raros. Minha mãe sacou isso ainda na minha infância e, para atrair meu interesse, fosse no que fosse, ela simplesmente ia extraindo algo de bom no que eu fazia até que eu pudesse fazê-lo realmente bem. Elogiar era sua forma de me incentivar. E foi assim, no rastro de seus elogios, que fui tomando gosto por coisas bem importantes pra mim, como escrever e cozinhar.

Mas, como sou uma menina espertinha, fui crescendo e aprendendo a descartar a maior parte dos elogios que chegavam até mim por identificar aquele tom de praxe que descoloria esses pequenos agrados que eu gostava tanto na meninice.
Outro dia, porém, recebi o melhor elogio que alguém poderia me fazer. Ele chegou cheio de aceitação, como que planando na minha alma, e me emocionou de um jeito calado, adulto.

Viajando com meu irmão, e trocando idéias amigavelmente, fui surpreendida quando ele disse que rezava para que sua filhinha de 5 anos saísse a mim, que herdasse minha personalidade e que encarasse a vida como eu. Um anjo passou antes que eu me ouvisse dizer que o preço que eu pagava pra ser eu mesma era alto demais. Ser forte, talvez a principal característica da tia da Lara, é tarefa árdua, assim como é hercúlea a missão de ser fiel a si mesmo.

Para ela, que já herdou muito da minha personalidade independentemente dos anseios de seu pai, desejo apenas que, como a tia, Lara DECIDA ser feliz. Porque isso – ser feliz – é uma questão de atitude, de resolução e, principalmente, de coragem.

terça-feira, 14 de julho de 2009

O colecionador de loucos



Muitas vezes eu me surpreendo com a minha capacidade de aceitar diferenças e compreender os mais desvairados atos das pessoas que me cercam. Mas, o fato é que pra mim é fácil aceitar, me adaptar e seguir adiante. Minha mãe já me dizia que minha maior inteligência era a adaptabilidade. Tava certa, a Delux! Mas, andei me perguntando esses dias de onde vem tanta facilidade para encarar as coisas mais absurdas com a maior naturalidade. Tive de gargalhar com o meu exercício de pensar nas pessoas com as quais convivi durante toda a vida: os normais eram exceção! Meu avô materno, por exemplo, colecionava loucos.


Morando numa cidadezinha minúscula e sem hospício, ele recolhia da rua os loucos que não tinham onde morar e que mendigavam aqui e ali. Um deles era a Guilé. Ela passava banha de porco na cabeça como se fosse remédio e enrolava tudo com pano, preso por quatro pequenos nós, por causa da “zoada” dentro da caixola. Nos momentos de ataques, ela saía pela casa gemendo, entrando e saindo num cômodo e outro da casa, como se isso pudesse despistar a tal zoada.


Baixinha, um tanto corcunda e já bem velhinha, Guilé era amada por todos nós por sua gargalhada estridente, mas isso não a imunizava das nossas artes e dos mil e um remédios que os netos-capetas do meu avô cismavam que poderiam curar o zunido dentro da sua cabeça. Ela tinha o nariz gigantesco e como aquele barulho me intrigava um bocado, imaginei que se colocasse um monte de perfume num daqueles frascos de plástico e pedisse pra Guilé cheirar forte ela ficaria curada. O problema é que quando ela cheirou beeeeeem profundo eu apertei a embalagem, o que fez jorrar perfume até o cérebro! Como meu remédio falhou, tive de aguentar a bronca.


O Joelice era um grandalhão, branco, de traços bonitos, mas sem capacidade até para se limpar. A tarefa cabia a minha avó, que, no balanço geral, era quem pagava o pato pelas atitudes ditadas pelo coraçãozão do meu avô. Joelice passava suas horas revirando os olhos, balançando a cabeça de um lado para o outro e cantando canções quase inaudíveis. Acho que era um anjo, meio fedido é bem verdade, mas um anjo bom.


O Wilton, filho da Guilé, que mora com a nossa família até hoje, tem um olho azul e um marrom e sua principal característica é o destempero na fala. Bastava a gente perguntar: o que foi Wilton? E ele soltava o que tinha em mente, numa confusão louca de palavras que normalmente começava por meeeeeeeer ou boooooooost. E isso bastava pra gente se matar de rir porque ele não parava nunca e ia soltando impropérios contra quem passasse pela sua cabeça.


A Mariquinha, que também ainda vive conosco, é o contrário. Falar pra ela é exercício difícil. Só pra se ter uma idéia, loucura, por exemplo, vira “nucura” na pronúncia dela. O negócio da Mariquinha, que deve estar aí com seus 67 anos, é ficar bonita e achar namorado. Pra isso, ela não mede esforços. Se ela te dá uma pimenta de presente, pega o lápis e papel e anota o pedido porque ela vai cobrar alguma coisa. E logo! Eu não enrolo e sempre que ganho abóboras, já pergunto logo o que ela quer. Normalmente são vestidos brilhosos, dourados, batom regateiro ou flor de plástico para colocar no cabelo. Sua melhor amiga, a Liquor, falava exatamente igual, era tão vaidosa quanto, com a diferença de que ela ria, ria, ria... até em velório.


Meu avô também não era o mais normal dos avôs. Alto, muito branco, olhos azuis profundos e bem barrigudo, ele usava camisas com furos feitos pelas faíscas que caíam do cachimbo que ele fumava sistematicamente. Mesmo quando não estava aceso. Desavergonhado, principalmente quando ia tomar banho de bica na fazenda, ele passava por quem quer que fosse nu, pelado, pelado, nu com a mão no bolso. Seu espírito era de um menino arteiro e ele nem pensava no politicamente correto antes de sacar um dos seus métodos infalíveis para educar seus netos, como dar um tiro de revolver pra cima, só pra ver a molecada correr da areia amontoada para uma reforma e sobre a qual uma dezena de crianças brincavam.


Outra vez, eu ainda nem sonhava em nascer, ele tirou de um andarilho uma criança que era maltratada diariamente. Acampados perto da casa dele, homem e menino viviam uma relação doentia marcada por surras e exploração, até o meu avô ameaçar o tal mendigo e oferecer abrigo para a criança, que viveu com ele até a vida adulta. E histórias como esta tem milhares, desse ser humano que não era nada, nada, politicamente correto, mas que tinha atitudes. Positivas, na minha avaliação.


Numa outra oportunidade, contarei sobre os loucos menos evidentes que sempre me cercaram, mas nem por isso menos adoráveis. Esta amostra é só pra me convencer mesmo que "nucura" pouca é bobagem!

terça-feira, 7 de julho de 2009

Minha vida nos meus sonhos


Juro por Deus que, se eu fosse rica, mandaria instalar aqueles sistemas de vigilância eletrônica com câmeras pra todo lado no meu quarto, só pra rir das loucuras que me acontecem durante o sono. Apronto cada uma, me flagro em cada situação... sem brincadeira, tenho de rir, mas isso depois que o coração volta para o lugar.

Hoje, por exemplo, acordei com meus próprios gritos, braço em riste apontando a cama enquanto via uma aranha pequena se transformar num caranguejeira enorme andando sobre o meu travesseiro até desaparecer no canto da parede. Não vi (não mesmo) a hora que saltei da cama, mas me lembro de puxar as cobertas e jogar os travesseiros no chão até cair ficha: eu estava sonambulando! É impressionante esse limbo entre a realidade e o sonho. Ao mesmo tempo que o meu cérebro registrava os meus gritos e me alertava que eu estava de pé, uma outra parte dele continuava dormindo e sonhando com a tal aranhona. Tudo ao mesmo tempo agora.

Episódios como esse são comuns pra mim, apesar de me lembrar de bem poucos. Mas, ando, converso, acordo com meu próprio grito por socorro, sento na cama, arrumo coisas invisíveis, chamo por pessoas distantes, faço ginástica (essa é diária) e gargalho! Fora as vezes em que falo com pessoas que não estão mais por aqui. É. Daí acordo, na maioria das vezes sem ter sequer idéia das minhas peripécias noturnas e, evidentemente, reclamo de cansaço! Me lembro até hoje de um episódio superintrigante pra mim, ocorrido na minha infância. Acho que tinha uns seis ou oito anos e, completamente confusa, acordei no meio da rua, com a manhã já avançada e a uns cem metros da minha casa, só de camisola. Morri de vergonha!

Minhas amigas choram de rir contando uma história da época da faculdade quando, depois de dormirmos muito tarde e cansadas por causa de um trabalho, uma delas reclamou que ouviu o patinar de uma barata. Irritada com os cochichos e sem acordar, eu teria acendido a luz, pego uma chinela e, com uma impressionante mira, atingido em cheio a barata. Então, eu teria apagado a luz, virado para o lado e voltado a dormir. Eu mudei o tempo verbal de propósito porque não lembro de muita coisa e quem me conhece bem sabe que de pontaria eu sou péssima! Incrível como ganho habilidades extras enquanto durmo!

O sonambulismo tem explicações científicas (transtorno classificado como uma parassonia do sono, também chamado noctambulismo, durante o qual a pessoa pode desenvolver habilidades motoras simples ou complexas), psicológicas (reflexo do inconsciente) e até espíritas (o sonâmbulo é um médium e o fenômeno representa a independência da alma). Mas, pra mim, é um mistério. Um completo e cansativo mistério! Cansativo para os vizinhos também, porque deve ser bem desagradável acordar de madrugada com uma louca gritando socorro ou tendo a cama invadida por aranhas. A coisa é tão grave que, hoje, mesmo depois de uma varredura completa no quarto, preferi dormir no sofá. Eu hein?!