quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Mário

- Alô -, eu respondo (COM MINHA VOZ FEMININA!) ao celular que toca.

- É o Charles?

- Não, né?!

- Ué, e quem tá falando então?

- É o Mário! -, eu digo impaciente.

Click.

- Droga! Desligou.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Com medo dos porcos

Quem me conhece bem sabe que não sou de fazer corpo mole, mas há três dias uma gripe (suspeita-se que suína) me pegou de jeito e mandou pra cama. Três dias sem por o nariz pra fora de casa, exceto para ir ao médico e fazer exames, tamanha a minha moleza. Mas, eis que senão quando, me lembro hoje que não paguei minha conta de celular. M..., mil vezes M...!

Depois de amaldiçoar o fato de não ter colocado a tal conta em débito automático, juntei toda minha coragem num vestido verde, longo e confortável, prendi os cabelos em coque, calcei uma sandália rasteira e me mandei pro banco. Deixei o carro estacionado no Pão de Açúcar, onde, após pagar a conta, eu pegaria algo pra almoçar.

Atravessei a rua sentindo todos os meus ossos, o sol incomodando minha pele e agradeci - mesmo sabendo que aquilo não iria me fazer bem - o fresquinho do ar-condicionado quando entrei nos caixas eletrônicos do Banco do Brasil, da Praça Tamandaré. Abri a bolsa, saquei o celular, onde tinha anotado o código de barra da tal conta, e comecei a digitar aquela porção de incontáveis zeros, quando (KATAPUM!) ouvi um barulhão. Talvez tenha digitado mais um número antes de olhar a minha esquerda e registrar, num ínfimo segundo, cacos da porta-giratória espalhados pelo chão e uma confusão do lado de dentro das faces intactas da porta, que terminou com um homem de terno e gravata no chão.

Não sei quantos milésimos de segundo levei pra puxar meu cartão, alcançar a porta de saída, já me esquivando de balas que não vieram, escutar os objetos que caíam da minha bolsa baterem no chão e as freadas de um veículo branco que parou a 15 centímetros de mim. Me livrei do motorista e, respirando ofegantemente, liguei 190 e contei a história enquanto atravessava nervosamente para o Pão de Açúcar. Um rapaz me acalmou e, quase como um milagre, ouvi a voz da minha amiga Adriana que, coincidentemente, fazia compras no supermercado. Fui a única a sair do banco, segundo me disse um observador, apesar da minha gripe, da minha fraqueza.

Fiquei parada ali, coração na mão quando, em menos de cinco minutos, os policiais cercaram o prédio, pararam o trânsito e, por fim, invadiram a agência. Meia hora depois, tudo acabado. Um louco solitário queria assaltar o banco, escutei um policial relatar pelo rádio. Fui apurar e um funcionário me contou que, não estava certo, mas acreditava que o rapaz queria golpear o banco descontando um cheque falsificado. Enfim, seja lá o que for, vi que é besteira temer a gripe suína com tantos porcos andando soltos por aí.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Teoria do abraço


Era uma vez uma princesa que se apaixonou pelo príncipe errado e fim da história. Era uma vez um príncipe que amou a princesa que preferia, mil vezes, o sapo. Era uma vez um príncipe que preferia o sapo, por falta de outro príncipe na história. E assim são os contos de fadas modernos, reflexos desses amores verdes de hoje em dia, tão distantes daqueles amores “feinhos” descritos por Adélia Prado.


Amor, por princípio, devia ser algo simples, porque amor a gente dá e pronto. Não exige retorno e independe do consentimento do outro. Eu amo. Ponto. E isso não obriga ninguém a me amar também. Amo o outro integralmente. A gente age assim com pais, sobrinhos, irmãos, amigos, mas por que é tão difícil abandonar a idéia de contrapartida quando estamos com alguém? Por que gostamos tanto de provas de amor? Por que medimos, mesmo que inconscientemente, o amor? O cinema nos faz esperar um príncipe que fez burrada, louco e desesperado, correndo pra nos impedir de embarcar rumo a um destino sem ele? Por que, nem sempre, valorizamos o amor simples que, como no poema de Adélia, “tudo que não fala, faz”?


Eu não tenho as respostas, mas andei pensando sobre isso ao conversar com minha sobrinha Lara que, do alto dos seus 5 anos, me dá algumas lições valiosas sobre a essência da coisa: a simplicidade. “Tia Nine, quando estou com saudade de alguém que não está perto, eu faço assim”, ela me disse enroscando os braços em torno do pescoço. “Daí eu fecho os olhos e passa”, revelou a técnica que usa, principalmente, quando sente falta da vovó. Alguém pode me dizer o que pode ser mais simples do que esse gesto de amor incondicional, que não exige sequer a presença do outro?


Não vou tecer teorias sobre os porquês da bagunça emocional que atinge um monte gente. Suposições demais pra vida real. Mas, vou me permitir um palpite: falta nos casais a simplicidade do amor feinho, de Adélia, da minha vó, da sua, de gente forte que decide amar sem firulas, sem o cinema, sem essa de príncipe e princesa. Porque o amor feinho, se você pensar bem, deve ser o que acontece nos contos de fada depois do “e foram felizes para sempre.”



Eu quero amor feinho.
Amor feinho não olha um pro outro.
Uma vez encontrado, é igual fé,
não teologa mais.
Duro de forte, o amor feinho é magro, doido por sexo
e filhos tem os quantos haja.
Tudo que não fala, faz.
Planta beijo de três cores ao redor da casa
e saudade roxa e branca,
da comum e da dobrada.
Amor feinho é bom porque não fica velho.
Cuida do essencial; o que brilha nos olhos é o que é:
eu sou homem você é mulher.
Amor feinho não tem ilusão,
o que ele tem é esperança:
eu quero amor feinho.

Adélia Prado

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Fofoca

Peguei minha sobrinha Lara, de 5 anos, e fui comer um sanduíche no Mac Donald's (é, eu devia ensinar hábitos melhores, mas eu também adoro!). Enquanto comíamos ela me pergunta:

- Tia Nine, o que é que você faz mesmo?

- Sou jornalista.

- O que é isso, que eu não estou lembrando? -, ela questiona revirando seus adoráveis olhões.

Explico. E ela vai confirmando suas pequenas teorias sobre o jornalismo tecendo um ou outro exemplo sobre o assunto e chega a conclusão de que eu escrevo as histórias que me pedem.

- É mais ou menos isso -, eu digo.

Ela põe mais algumas batatinhas na boca, pensa um pouco e, como se quisesse me dizer que também é capaz de exercer a função, ela solta:

- Tia Nine, você nem imagina! Eu já aprendi um monte de palavras na escola.

- Nossa! Que legal Larinha! E de qual delas você mais gosta?

Depois de me explicar que só não gosta da palavra bolacha, ela manda:

- Fofoca!

Gente, será que essa menina pegou o espírito da coisa? Prefiro acreditar que ela esteja apenas na fase do "F".

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Esquisitinha você, hein?!



Não sei se já mencionei aqui o quanto minha mãe era impressionável e medrosa. Ela era. Um dia, ainda sem ter consciência da importância dessa informação, eu acordei e fui direto pra cama dela.

- Mamãe, hoje eu me vi dormindo lá de cima do armário – eu mandei na bucha.

Ela se benzeu, me olhou com uma cara tão estranha e tão assustada que resolvi enterrar o assunto de vez, apesar de o fenômeno me ocorrer ocasionalmente.

Muito tempo depois, eu já estava na faculdade, a coisa ficou feia de vez. As projeções astrais eram constantes e, se é que posso usar a expressão, perigosas. Um sábado à tarde eu me peguei brincado de passar embaixo dos ônibus em movimento na Avenida Anhangüera! Era tão assustadora a facilidade com a qual eu me desprendia do meu próprio corpo que fui ler sobre assunto. Fiquei sabendo que isso se chamava projeção astral ou projeciologia e que existiam estudos importantes sobre o assunto e que a própria medicina já se interessava por ele.

Segundo o Instituto Internacional de Projeciologia e Conscienciologia (IIPC), a projeciologia “é um ramo ou especialidade da ciência Conscienciologia, que estuda as projeções energéticas da consciência e as projeções da própria consciência para fora do corpo humano, ou seja, das ações da consciência operando fora do estado de restringimento físico do cérebro e do corpo biológico. Além da experiência fora do corpo propriamente dita, a Projeciologia também investiga dezenas de fenômenos projeciológicos correlatos tais como: bilocação, clarividência, experiência de quase-morte, precognição, retrocognição, telepatia e muitos outros.”

Por volta dos 15 anos tive também uma experiência de bilocação, ou seja, estar em dois lugares ao mesmo tempo. Segundo relatos, eu teria me despedido de uma amiga, mas no momento exato que ela partia, eu dormia tranquilamente na casa dos meus avós. Eu bati o pé que dormia, tinha provas de que eu dormia, e eles tinham prova de que eu tinha ido. Looooouco! Sei que é estranho, mas acreditem: é muito mais pra mim.

Não sei porque, talvez por uma necessidade de racionalidade, talvez pela descrença das pessoas em relação ao assunto, boicotei esse processo e somente em raríssimas ocasiões ele me ocorria conscientemente. Visitas a pessoas conhecidas e de quem eu sentia falta e viagens a lugares exóticos foram alguns desses episódios de projeção astral. Uma vez, sobrevoei (ai, é sempre duro relatar essas coisas sem pensar quantas pessoas não devem me achar maluca) uma floresta densa, voando de costas, num carinho dos deuses.

Volto a pensar no assunto agora porque isso me ocorreu duas vezes recentemente. E, nesta noite, conscientemente, estive num lugar que não existe nesse mundo, numa cachoeira de névoa verde, que desembocava num lago doce e de águas com consistência bizarra. Acordei às 5 da manhã com uma paz inédita, algo curativo e completamente restaurador. Liguei o rádio, sentei na cama, abri uma fresta da janela e não pude deixar de pensar nas vantagens de ser bem esquisitinha!