Querido Papai Noel,
Tá chegando o Natal. Eu percebi pela iluminação das lojas que, de um momento pra outro, se encheram de luzinhas coloridas e enfeites vermelhos e verdes. Vi também as propagandas na TV com promoções imperdíveis para toda família e o aumento do número de produtos como panetones e decoração natalina no supermercado que frequento. Acho que daqui a alguns dias devem iluminar a cidade inteira, porque já vi os caminhões instalando aquelas lâmpadas que deixam Goiânia tão linda. Mas, Papai Noel, resolvi te escrever porque preciso dizer que não gosto do Natal.
Eu já gostei, sabe? Houve uma época em que eu esperava o ano inteiro pelo aniversário de Jesus. Gostava de acordar um dia e ver todas as minhas tias ouriçadas com a idéia de montar um presépio, discutindo ideias, elaborando estratégias pra reproduzir, com a maior perfeição possível, a cena bíblica do nascimento do Menino. Mas, nem era isso que eu mais apreciava. Nesse tempo, algo mágico acontecia comigo. O tal "espírito natalino" fazia um ninho dentro de mim, suavizava minha vida, elevava minha fé, renovava as crenças no bem. O Natal me afetava, verdadeiramente.
Na verdade, eu ainda espero o ano inteiro pelo dia 25 de dezembro, mas eu sempre me frustro porque aquela magia de antes não acontece mais. Eu tento até recuperar isso, sabe? Faço lá minhas orações, corro atrás de perus, molhos especiais, presentes. Escolho um vestido bonito, muitas vezes vermelho, mas, depois de tudo, a única sensação palpável que tenho é mesmo o cansaço. Às vezes, penso em chamar vizinhos, família, amigos mais próximos e refazer o presépio, que minha família apelidava carinhosamente de "Lapinha". Mas, ainda acho que não é isso. Alguma coisa morreu em mim, Papai Noel, ou o Natal verdadeiro é privilégio da infância?
Com a proximidade da data, cheguei a pensar em ignorar a festa, pedir uma pizza e ficar em casa vendo um filme, sem frustrações ou grandes expectativas. Suspeito, caro Papai Noel, que esse sentimento não seja só meu. Seriamente, desconfio que as pessoas em geral não guardem mais que a tradição pura e simples de festejar o dia. Fazendo, então, essa confissão difícil, bom velhinho, peço com todas as forças que coloque na minha meia nesse dia 25 de dezembro, o espírito de Natal, de fraternidade, de interiorização, de renovação de fé. Quero aquela magia de volta!
Pra não ser mal educada, agradeço, do fundo do coração, Papai Noel, os bons presentes que tive esse ano, especialmente, os livramentos que me concedeu e a força para encarar, com alegria, cada um dos meus dias. E, se por acaso, caro Papai Noel, suas renas resolverem vir para esses lados, imploro para que se lembre com carinho do meu pedido e que o senhor tenha o bastante para encantar árvores de Natal, bolas, perus, panetones, luzes e almas.
Com amor,
Nina