sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Amor de tatuagem

Acho que nunca ouvi do meu pai e da minha mãe a frase "eu te amo". Se ouvi, também não registrei. Mas, não se espantem. Não cresci traumatizada porque, na minha casa, independente dessa frase – tão comumente repetida atualmente – pingava amor do teto, escorria amor pelas paredes, comíamos amor com feijão, bebíamos café com amor e dormíamos cobertos por ele. Acho que essa história de dizer Eu te amo não era moda na época em que cresci. Mas, quando se tem amor de verdade em casa, essa frase é completamente dispensável.

Acho bacana saber que os pais de hoje dizem isso facilmente aos seus filhos, tanto melhor que eles saibam. Eles talvez usem do artifício porque – ao contrário do que acontecia na minha época de criança – não têm tempo para demonstrar este sentimento aos seus rebentos. Eu trabalho das 8 às 18 e, na hora do almoço, corro para resolver problemas, ir a médicos, dentistas, mandar lavar roupas, consertar alguma coisa, comprar presentes ou fazer supermercado.

Depois das 18, arrumo o apê, que só é decentemente cuidado uma vez por semana, quando a gentil Selma se ocupa dele pra mim. Tudo isso fora os aniversários, o cinema (preciso me manter atualizada), os compromissos sociais, o Orkut (meio moderno de fazer contatos), o Twitter, os amigos que precisam de atenção, a família (pra quem sobra cada vez menos tempo), os livros que me esperam e me espreitam como se me desafiassem.

Ainda não tive filhos, mas se os tivesse, acho que me sentiria muito culpada em ter tão pouco tempo pra eles. Essa garotada de hoje precisa (e muito!) de "eu te amos". Queria ter a sorte de ter muitas crianças, mas, mais ainda, de não precisar reafirmar meu amor a toda hora. Desejaria, como aconteceu com meus pais, que os meus filhos soubessem disso, naturalmente, como eu sabia (e sei!). Porque é fácil esquecer uma frase, mas ninguém tira de você aquele amor que, num abraço, olhar, ou carinho, decide ficar, como tatuagem de alma.