sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Amor de tatuagem

Acho que nunca ouvi do meu pai e da minha mãe a frase "eu te amo". Se ouvi, também não registrei. Mas, não se espantem. Não cresci traumatizada porque, na minha casa, independente dessa frase – tão comumente repetida atualmente – pingava amor do teto, escorria amor pelas paredes, comíamos amor com feijão, bebíamos café com amor e dormíamos cobertos por ele. Acho que essa história de dizer Eu te amo não era moda na época em que cresci. Mas, quando se tem amor de verdade em casa, essa frase é completamente dispensável.

Acho bacana saber que os pais de hoje dizem isso facilmente aos seus filhos, tanto melhor que eles saibam. Eles talvez usem do artifício porque – ao contrário do que acontecia na minha época de criança – não têm tempo para demonstrar este sentimento aos seus rebentos. Eu trabalho das 8 às 18 e, na hora do almoço, corro para resolver problemas, ir a médicos, dentistas, mandar lavar roupas, consertar alguma coisa, comprar presentes ou fazer supermercado.

Depois das 18, arrumo o apê, que só é decentemente cuidado uma vez por semana, quando a gentil Selma se ocupa dele pra mim. Tudo isso fora os aniversários, o cinema (preciso me manter atualizada), os compromissos sociais, o Orkut (meio moderno de fazer contatos), o Twitter, os amigos que precisam de atenção, a família (pra quem sobra cada vez menos tempo), os livros que me esperam e me espreitam como se me desafiassem.

Ainda não tive filhos, mas se os tivesse, acho que me sentiria muito culpada em ter tão pouco tempo pra eles. Essa garotada de hoje precisa (e muito!) de "eu te amos". Queria ter a sorte de ter muitas crianças, mas, mais ainda, de não precisar reafirmar meu amor a toda hora. Desejaria, como aconteceu com meus pais, que os meus filhos soubessem disso, naturalmente, como eu sabia (e sei!). Porque é fácil esquecer uma frase, mas ninguém tira de você aquele amor que, num abraço, olhar, ou carinho, decide ficar, como tatuagem de alma.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Carta para Papai Noel



Querido Papai Noel,



Tá chegando o Natal. Eu percebi pela iluminação das lojas que, de um momento pra outro, se encheram de luzinhas coloridas e enfeites vermelhos e verdes. Vi também as propagandas na TV com promoções imperdíveis para toda família e o aumento do número de produtos como panetones e decoração natalina no supermercado que frequento. Acho que daqui a alguns dias devem iluminar a cidade inteira, porque já vi os caminhões instalando aquelas lâmpadas que deixam Goiânia tão linda. Mas, Papai Noel, resolvi te escrever porque preciso dizer que não gosto do Natal.

Eu já gostei, sabe? Houve uma época em que eu esperava o ano inteiro pelo aniversário de Jesus. Gostava de acordar um dia e ver todas as minhas tias ouriçadas com a idéia de montar um presépio, discutindo ideias, elaborando estratégias pra reproduzir, com a maior perfeição possível, a cena bíblica do nascimento do Menino. Mas, nem era isso que eu mais apreciava. Nesse tempo, algo mágico acontecia comigo. O tal "espírito natalino" fazia um ninho dentro de mim, suavizava minha vida, elevava minha fé, renovava as crenças no bem. O Natal me afetava, verdadeiramente.

Na verdade, eu ainda espero o ano inteiro pelo dia 25 de dezembro, mas eu sempre me frustro porque aquela magia de antes não acontece mais. Eu tento até recuperar isso, sabe? Faço lá minhas orações, corro atrás de perus, molhos especiais, presentes. Escolho um vestido bonito, muitas vezes vermelho, mas, depois de tudo, a única sensação palpável que tenho é mesmo o cansaço. Às vezes, penso em chamar vizinhos, família, amigos mais próximos e refazer o presépio, que minha família apelidava carinhosamente de "Lapinha". Mas, ainda acho que não é isso. Alguma coisa morreu em mim, Papai Noel, ou o Natal verdadeiro é privilégio da infância?

Com a proximidade da data, cheguei a pensar em ignorar a festa, pedir uma pizza e ficar em casa vendo um filme, sem frustrações ou grandes expectativas. Suspeito, caro Papai Noel, que esse sentimento não seja só meu. Seriamente, desconfio que as pessoas em geral não guardem mais que a tradição pura e simples de festejar o dia. Fazendo, então, essa confissão difícil, bom velhinho, peço com todas as forças que coloque na minha meia nesse dia 25 de dezembro, o espírito de Natal, de fraternidade, de interiorização, de renovação de fé. Quero aquela magia de volta!

Pra não ser mal educada, agradeço, do fundo do coração, Papai Noel, os bons presentes que tive esse ano, especialmente, os livramentos que me concedeu e a força para encarar, com alegria, cada um dos meus dias. E, se por acaso, caro Papai Noel, suas renas resolverem vir para esses lados, imploro para que se lembre com carinho do meu pedido e que o senhor tenha o bastante para encantar árvores de Natal, bolas, perus, panetones, luzes e almas.

Com amor,

Nina

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Minhas pontes são míopes


- Tia Nine, por que você vive trocando de tio?


- (Glup!) Porque a tia Nine quer encontrar o melhor tio do mundo pra você.

Acho que todo mundo sabe da grande paixão que tenho pela minha sobrinha, Lara. Mas, ela pode ser desconcertante. Essa característica, entretanto, me estimula a reflexão, me faz lucidar, passar a limpo meus pensamentos. Com esta observação inocente, essa menininha - que conheceu APENAS dois outros tios em seus quase seis anos de vida - me fez pensar no filme As Pontes de Madison. Apaixonado por uma dona de casa (Meryl Streep), o fotógrafo interpretado por Clint Eastwood tenta convencê-la a deixar a família alegando que a certeza do amor é algo que se tem apenas uma vez na vida.

Gente, como eu invejo aquela convicção. Fico me perguntando como é que as pessoas sabem disso, principalmente, no início das relações. Porque quando gosto "com força" de alguém, acredito, piamente, que é amor. Mas depois esse sentimento vai se transformando e aquela certeza se esvaindo até que que eu perceba que não estava tão certa assim. Nesse ponto eu já dei tudo de mim, já fui até o fim e fico com aquela sensação de que foi em vão, de que fui enganada pelos deuses. Me sinto como um cachorrinho que fez mil e uma estripulias por uma linguiça de plástico.

Mas, também não posso dizer que gastei "eu te amos", que os tenha desperdiçado. Todas as vezes que um deles saía de minha boca era motivado por uma sensação legítima, ainda que equivocada. Porque o amor que acredito é o amor que dura, apesar de. Contudo, essa é explicação um tanto complexa pra minha sobrinha. Mas, é uma lembrança dela, ainda bebê, que vem ao meu socorro quando me angustio com o assunto, me perguntando porque um sentimento assim não chega pra mim como uma propaganda de refrigerante: MATE SUA SEDE!

Lara fala pelos cotovelos, numa profusão de palavras, ansiosa por recitar seus raciocínios. Mas, quando ela não conhecia mais que meia dúzia de palavras, registrava com palminhas toda sua felicidade cada vez que lhe dizia EU TE AMO! Olhos brilhando, sorriso largo e palminhas para aquela demonstração de amor que, julgávamos, não ser compreensível para um criança tão pequena.

Essa memória me faz pensar que amor não precisa ser dito pra ser compreendido. Não precisamos de “eu te amos” como garantia. A necessidade da certeza é, talvez, o que desanda a graça tão necessária a esse sentimento. Amor, seja ele o bom ou não, o “para sempre” ou "o provisório", precisa ser apenas aplaudido. Ponto. E palmas para os que têm coragem de amar, cegos pela incerteza; certos de que amar, com certificado de garantia, talvez seja mesmo coisa de filme.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Isso Pra Aquilo ou A Palavra e o Fato


Pra perfumar, escrevo lírio, incenso e terra molhada
Pra descansar, cama macia, abraço e edredom
Pra animar, Tim Maia, felicidade e saia rodada
Pra vadiar, short curto, cabelo solto, bicicleta e música do Tom


Pra enfeitar, escrevo flor, esmalte vermelho e blusa furta-cor
Pra adiantar, F5, sapato baixo e disposição
Pra namorar, vinho, beijo na boca e um tiquinho de amor
Pra trabalhar, café forte, vocabulário, poder de síntese e inspiração


Pra florear, escrevo estampa, exagero e embromação
Pra passear, vestido longo, primavera e Paris
Pra encurtar, tesoura, vírgula, ponto e edição

Pra amar, basta você... porque o resto...
o  resto é rascunho de rima barata,
é rabisco de nãos

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Meu grande amigo, meu pior namorado


Outro dia meu telefone toca bem cedo. Era o meu primeiro namorado me dizendo carinhosamente: “Aline, eu adoro aquelas suas historinhas”, se referindo aos posts que faço aqui no Caneca. Achei engraçado o interesse desse menino que foi tão importante na minha vida e que mesmo hoje, com toda distância imposta pela nossa adultice, ainda o é.


Ele foi um péssimo namorado! Pés-si-mo! Metia os pés pelas mãos numa frequência cardíaca. Eu tinha a impressão de que estava em teste 24 horas por dia. Mas, sejamos justos, também tinha a certeza de passar com distinção. Mas, isso é fato facilmente perdoável quando, pensando sobre isso, revejo aquelas duas crianças andando pelas ruas do Setor Sul.

Éramos isso. Só duas crianças que se conheciam desde sempre, mas que se enxergaram pela primeira vez numa madrugada do Dia dos Namorados do ano de 1989. A partir daí, eles se aventuraram, desembestados, na história de um amor adolescente, correspondido, mas vítima de muitas confusões, proibições, joguetes e infantilidades. Mas, sobretudo um amor construído com muito respeito e amizade.

Foi uma história gestada nas escadarias do Edifício Karina, no Setor Sul, onde as horas corriam fáceis, nos fazendo esquecer que éramos namorados. Ficávamos ali, sentados nos degraus discutindo um pouco de tudo, formando conceitos, falando de carros (que eu nunca conhecia), poesia, família, vestibular, e, raramente, construindo sonhos – o DNA dos futuros que, talvez por isso, não tivemos.

Nunca foi um namoro comum. Não tínhamos essas regras de nos falarmos ou nos vermos todos os dias. Mas, quando isso acontecia – fosse um telefonema, fosse uma visita – era intenso. Me lembro com carinho de uma vez que ele, então vestibulando de Medicina, me ligou às 8 da noite. Desliguei, rouca, às 2 da manhã, depois de ouvi-lo bronquear: “é por isso que não posso falar com você todo dia.” Também me lembro das férias em que, separados por centenas de quilômetros, ignorávamos o valor do interurbano e passávamos horas conversando, conversando, conversando...

Um dos nossos programas preferidos era sentar nas pracinhas do Setor Sul e ver a tarde correr. Também perdíamos boas horas fazendo caminhadas por aquelas ruazinhas tortas do bairro observando casas, falando de passantes, numa inocência que envergonharia aqueles que nos proibiam de ficar juntos.

Quando alguma coisa dava errada – o que não era difícil – meu sentimento tinha febre alta. E meu sofrimento vinha em cólicas. Só pra ninguém me chamar de injusta depois de tantas lembranças boas, conto apenas que uma vez, eu tentando ajeitar as coisas lá em casa, tentando convencer meus pais que ele era “o cara” - o que ele faz? - ele briga na “boate da cidade” por causa de uma outra menina. As explicações vieram aos borbotões, mas essas intempestividades eram típicas dele. Outra vez, ele entrou numa festa onde eu estava e fingiu que não me via, sei lá porquê. Mas, tudo isso passava na primeira gracinha que ele me fazia, ou às vezes na segunda, ou na terceira...

Apesar das decepções e dos desencontros, devo àquele rapaz maluquinho a consolidação dos valores que aprendi em casa. Tenho a certeza que ele contribuiu para minha formação moral, para que eu fosse mais segura de mim mesma, para que eu soubesse me valorizar, para que as facilidades e os ímpetos da adolescência não me corrompessem.

Até hoje, quando conheço uma pessoa, sinto falta da segurança que era namorar alguém que, como ele, me conhecia em gênero, número e grau. Que sabia de cor meus plurais, minha raiz, minha origem. E a mim não cabia mais do que ser apenas eu mesma. É certo que, pra ele, eu não poderia cantar aquela música do Kid Abelha, onde a Paula Toller diz “Eu tenho mil amigos, mas você foi meu melhor namorado”. Não. Isso ele não foi. Mas, ainda que as escadarias do Karina não soubessem, era uma profunda amizade que elas acobertavam. E o que é um namoradinho perto da sorte de se ter um grande amigo?

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Minhas tardes com Roberto


O rádio ficava em cima da janela que dava pra um banco de areia branquinha, cercado das samambaias e palmeiras de minha mãe. Meu pai construiu aquele cantinho pra gente brincar, mas na hora da soneca dos meus irmãos menores, eu sintonizava na Nacional AM que, logo após o almoço, tocava as canções do rei. Então, eu deitava na areia, depois de ajeitar um montinho mais protuberante na altura da cabeça como um travesseiro, e me deixava levar pelo laralara de Roberto.


Não sei ao certo como isso começou, mas virou umas das mais doces rotinas da minha infância. Acho que foi com a Germana, que vivia na casa dos meus avós e a quem eu fazia companhia enquanto ela lavava a louça. Na maioria das vezes eu fingia que almoçava em casa, onde eu tinha de cumprir certas regras de etiqueta, e escapulia para comer de verdade com meu avô, onde era liberado devorar frutas como melão, mamão e melancia junto com comida. Além disso, eu gostava daquele cheiro de tabaco e da irreverência daquela casa, habitada por loucos que, sem hospício na cidade, eram abrigados pelo meu avô.

Fora o barulho de uma panela ou outra sendo lavada na cozinha e do ronronar reconfortante da geladeira, a casa inteira dormia embalada pelo ritmo romântico de Roberto. Acho que foram nessas tardes, deitada naquela areia branquinha que aprendi a sonhar... ficava ali cavalgando em estradas coloridas, que meu cérebro de criança pintava de rosa-claro com florzinhas azuis, sem ter sequer a noção do sentido real da música Cavalgada, até hoje minha preferida.

Amada Amante, Desabafo, Como é grande o meu amor por você e, claro, Detalhes, eram cantaroladas com capricho por aquela menininha magricela, cabelos muito finos e muito loirinhos. Não sei exatamente por que lugares eu passeava ouvindo sua voz, onde é que aquele calhambeque (bibip!) me levava naquelas tardes, nem porque aquelas canções me afetavam tando, me conquistando numa idade em que era mais simples gostar do Palhaço Carequinha (hiiiii entreguei!). Mas, Roberto era, sim, minha estrada de Santos.

Nos natais, quando ele aparece tão pontual na Rede Globo, sempre prefiro ver o show sozinha ou entre os muitos íntimos pra não dar o vexame de cair no choro perto de gente que não conheço bem. Porque, até hoje, quando toca uma canção do Roberto, volto pra aquele cantinho feito de areia e samambaias. E, então, fecho os olhos de novo pra escutar o barulhinho da geladeira azul da minha infância. E sinto saudades de mim mesma.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Lápis de cor


Eu sempre tive essa mania de relacionar cores a sentimentos, gestos e pessoas. Tenho um leve daltonismo, mas gosto de ter meu mundinho à parte, com meus tons, meus pincéis malucos. Música pra mim é lilás, assim como a inspiração. Saudade é de um azul profundo; coragem é vermelho sangue e, paz, apesar do senso-comum associar com branco, é verde-floresta.

Tias são azul escuro com bolinha vermelha, namorados são jeans e namoradas são florais. Mãe é cor de serra vista de longe, daquelas que dão mistura de azul e rosa. Avô é azul turquesa e pais são verdes, muuuuuuuito verdinhos. Para irmãos não tem coloração definida, porque não é primário. São muitos tons, misturados, agitados, alegres. Criança tem cor de mar em dia de sol forte. Amiga é rosa, e não tinha como não ser diferente. Amigos são laranja forte e, desafetos, amarelo fosforescente.

A inteligência é ruiva. Chefe é roxo. Inveja é transparente. Chatos são daquela cor desbotada de shampoo rinse. Solidão tem cor de dia frio quando nasce. E a morte é de um branco quiboa desesperador. Já a alegria, ah... ela veste estampado de floral verde e rosa, enquanto a tristeza, daquelas de verdade mesmo,  bege clarinho. A beleza é mel. E a poesia é vermelho e rosa-fúcsia bem dosados, como um quarto parisiense. Sexo é dourado. Carinho é listrado de cinza e rosa e bebês tem cor de dia com vento. Palavras, coisa que amo, têm aquele verde azulado das viagens. Livro tem cor de anoitecer, assim como casas têm cor de amanhecer...

Minha raiva é vinho rubi bem concentrado e o meu amor... também. Meu desespero lembra uva seca e meu cinismo é preto com amarelo. A impaciência que me consome é rosa-choque-Rita-Lee. E a angústia não tem cor nenhuma, é oca, como um olhar triste. Minha preguiça tem cor de sofá verde, velho e aveludado e minha fome é amarelo-ovo. Beijo tem cor de doce de buriti fervendo em tacho de cobre. Mas, tem uma coisa que me intriga: qual é a cor de abraço?

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Elétrica, solar e eólica?

Oi Aline,

Sabe, eu sempre torci o nariz para essa expressão: "energia"

- Nossa! A energia desse lugar é incrível!
- Você viu a fulana hoje? Tá com uma energia tão negativa.

Parece papo de esotérico.
Era assim até ontem.

Tô atravessando uma fase negra.
Inferno astral é eufemismo.
Mas bastou ver aquele seu sorriso de 5.000 volts pra eu sentir a energia.
Uma energia boa.
Que veio em ondas.
E que, por um breve momento, me fez esquecer os perrengues.
E me fez acreditar tudo vai ficar bem no final.

Beijos.
Muito bom te ver.
Mesmo que de relance (aquela fila de carros atrás de você iria te apedrejar se demorasse mais um pouco)


Recebi esse e-mail de um amigo querido, que tem um interior sensível e lindo. Um amigo que vê a vida com a dignidade de um leitor interessado e que tem uma sensibilidade fantástica. Um amigo de quem já fui mais próxima e com quem passei manhãs adoráveis e compartilhei alguns dos meus melhores cafés da manhã. Resolvi dividir essa carta carinhosa com vocês porque, justamente hoje, pensei em escrever sobre energia.

Com essa história de ser 09/09/09, engatei um papo astral com um colega de trabalho e chegamos a conclusão de que as pessoas, independente do que pescam vida afora, trazem essa coisa visceral (que resolvemos chamar de energia), essa identidade espiritual e não escapam de ser o que são. Somos alegres ou não. Somos contidos ou não. Somos falsos. Somos tristes. Somos decepcionados. Somos amargurados. Somos artificialmente felizes. Somos belicosos. Somos ariscos. Somos. Mas, acima disso, trazemos essa energia e ela fica tatuada, colada, como uma roupa da qual não se despe.

Meu amigo foi generoso comigo. Mas, sou alegre sim, até quando sou triste. E não, não há escapatória para o meu “ser”. Talvez seja essa minha sina, talvez seja essa a grande piada da minha vida. Comentava com esse colega de trabalho sobre como somos impotentes diante desse espelho que são as pessoas com as quais convivemos, de como é inútil tentarmos “parecer”.

É engraçado porque, na semana passada, escrevi um texto aqui no Caneca sobre a angústia de um personagem imaginário, uma mulher que sofria por ser obrigada a calar sentimentos e que era confrontada com a atitude de uma amiga que lhe desejava silêncios, quando sua necessidade era o grito, o desabafo. Texto mais pastoso, diferente dos costumeiros e digeríveis devaneios habituais do blog. Muitos amigos me escreveram ou comentaram que o texto não tinha nada a ver com comigo. Um deles me escreveu via depoimento no Orkut: “texto denso, diferente de tudo que você escreve. Você sempre usa leveza e muita ternura.”

Talvez a alegria seja mesmo minha marca mais ressaltada, pelo menos para alguns amigos que, como este do e-mail acima, me lêem com generosidade. Tenho “eus” mais sorumbáticos e impacientes e amigos menos magnânimos. Mas, não posso negar que alimenta minha fé a idéia de um sorriso melhorar o dia de alguém. Se isso é energia, caro amigo do e-mail, fico feliz de ter uma assim. Mas, é preciso dizer que quem tem a sensibilidade de alterar seu próprio dia por causa de um sorriso, tem de ter uma energia melhor ainda.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Recorte


Ela me desejou silêncios. Estiquei o braço, virei o botão pra direita e aumentei o som. E a música foi avançando rumo as paredes, me cercando, envolvente, atordoante. Deixei cair meu corpo magro no chão frio, encolhida, olhos cerrados e vi quando as lágrimas, temerárias, decidiram beijar o assoalho. “Basta um dia, somente um dia...”, Chico dizia, enquanto a dor disputava espaços dentro de minha alma tão cansada de momentos-zumbi, de passados burros, de escolhas tortas.

E eu que odeio relógios desejava vorazmente as horas, muitas delas amontoadas num saco de lixo repleto e pronto pra ser jogado fora. Naquela madrugada, desejava o dia e mais um. E mais outro. E outro ainda. Folhas do calendário arrancadas poderiam aplacar meu fracasso? Dias riscados dariam fim a frustração do não, à impotência do não-ser?

Ela me desejou silêncios. E eu ardia. E eu queria risos. E eu queria sussurros. E eu queria, queria, queria... não querer. “Basta um dia, somente um dia...”, o homem-do-olho-de-mar se solidarizava com meu corpo doído, um tanto gelado, magoado, arranhado, faminto. Não havia vontade pra vontade de correr, não havia paz na noite, nem sol suficiente para que fosse dia. E ela me desejava silêncios?!

De repente calou-se, zangado. Não bastaria um dia. Não haveria dia! E meses, anos, séculos ficariam tatuados pelo chão frio. Mas uma calma absoluta foi se entranhando nas horas emburradas, preguiçosas, até que, enfim, a madrugada sorriu. Porque ela me desejou silêncios.

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Mário

- Alô -, eu respondo (COM MINHA VOZ FEMININA!) ao celular que toca.

- É o Charles?

- Não, né?!

- Ué, e quem tá falando então?

- É o Mário! -, eu digo impaciente.

Click.

- Droga! Desligou.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Com medo dos porcos

Quem me conhece bem sabe que não sou de fazer corpo mole, mas há três dias uma gripe (suspeita-se que suína) me pegou de jeito e mandou pra cama. Três dias sem por o nariz pra fora de casa, exceto para ir ao médico e fazer exames, tamanha a minha moleza. Mas, eis que senão quando, me lembro hoje que não paguei minha conta de celular. M..., mil vezes M...!

Depois de amaldiçoar o fato de não ter colocado a tal conta em débito automático, juntei toda minha coragem num vestido verde, longo e confortável, prendi os cabelos em coque, calcei uma sandália rasteira e me mandei pro banco. Deixei o carro estacionado no Pão de Açúcar, onde, após pagar a conta, eu pegaria algo pra almoçar.

Atravessei a rua sentindo todos os meus ossos, o sol incomodando minha pele e agradeci - mesmo sabendo que aquilo não iria me fazer bem - o fresquinho do ar-condicionado quando entrei nos caixas eletrônicos do Banco do Brasil, da Praça Tamandaré. Abri a bolsa, saquei o celular, onde tinha anotado o código de barra da tal conta, e comecei a digitar aquela porção de incontáveis zeros, quando (KATAPUM!) ouvi um barulhão. Talvez tenha digitado mais um número antes de olhar a minha esquerda e registrar, num ínfimo segundo, cacos da porta-giratória espalhados pelo chão e uma confusão do lado de dentro das faces intactas da porta, que terminou com um homem de terno e gravata no chão.

Não sei quantos milésimos de segundo levei pra puxar meu cartão, alcançar a porta de saída, já me esquivando de balas que não vieram, escutar os objetos que caíam da minha bolsa baterem no chão e as freadas de um veículo branco que parou a 15 centímetros de mim. Me livrei do motorista e, respirando ofegantemente, liguei 190 e contei a história enquanto atravessava nervosamente para o Pão de Açúcar. Um rapaz me acalmou e, quase como um milagre, ouvi a voz da minha amiga Adriana que, coincidentemente, fazia compras no supermercado. Fui a única a sair do banco, segundo me disse um observador, apesar da minha gripe, da minha fraqueza.

Fiquei parada ali, coração na mão quando, em menos de cinco minutos, os policiais cercaram o prédio, pararam o trânsito e, por fim, invadiram a agência. Meia hora depois, tudo acabado. Um louco solitário queria assaltar o banco, escutei um policial relatar pelo rádio. Fui apurar e um funcionário me contou que, não estava certo, mas acreditava que o rapaz queria golpear o banco descontando um cheque falsificado. Enfim, seja lá o que for, vi que é besteira temer a gripe suína com tantos porcos andando soltos por aí.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Teoria do abraço


Era uma vez uma princesa que se apaixonou pelo príncipe errado e fim da história. Era uma vez um príncipe que amou a princesa que preferia, mil vezes, o sapo. Era uma vez um príncipe que preferia o sapo, por falta de outro príncipe na história. E assim são os contos de fadas modernos, reflexos desses amores verdes de hoje em dia, tão distantes daqueles amores “feinhos” descritos por Adélia Prado.


Amor, por princípio, devia ser algo simples, porque amor a gente dá e pronto. Não exige retorno e independe do consentimento do outro. Eu amo. Ponto. E isso não obriga ninguém a me amar também. Amo o outro integralmente. A gente age assim com pais, sobrinhos, irmãos, amigos, mas por que é tão difícil abandonar a idéia de contrapartida quando estamos com alguém? Por que gostamos tanto de provas de amor? Por que medimos, mesmo que inconscientemente, o amor? O cinema nos faz esperar um príncipe que fez burrada, louco e desesperado, correndo pra nos impedir de embarcar rumo a um destino sem ele? Por que, nem sempre, valorizamos o amor simples que, como no poema de Adélia, “tudo que não fala, faz”?


Eu não tenho as respostas, mas andei pensando sobre isso ao conversar com minha sobrinha Lara que, do alto dos seus 5 anos, me dá algumas lições valiosas sobre a essência da coisa: a simplicidade. “Tia Nine, quando estou com saudade de alguém que não está perto, eu faço assim”, ela me disse enroscando os braços em torno do pescoço. “Daí eu fecho os olhos e passa”, revelou a técnica que usa, principalmente, quando sente falta da vovó. Alguém pode me dizer o que pode ser mais simples do que esse gesto de amor incondicional, que não exige sequer a presença do outro?


Não vou tecer teorias sobre os porquês da bagunça emocional que atinge um monte gente. Suposições demais pra vida real. Mas, vou me permitir um palpite: falta nos casais a simplicidade do amor feinho, de Adélia, da minha vó, da sua, de gente forte que decide amar sem firulas, sem o cinema, sem essa de príncipe e princesa. Porque o amor feinho, se você pensar bem, deve ser o que acontece nos contos de fada depois do “e foram felizes para sempre.”



Eu quero amor feinho.
Amor feinho não olha um pro outro.
Uma vez encontrado, é igual fé,
não teologa mais.
Duro de forte, o amor feinho é magro, doido por sexo
e filhos tem os quantos haja.
Tudo que não fala, faz.
Planta beijo de três cores ao redor da casa
e saudade roxa e branca,
da comum e da dobrada.
Amor feinho é bom porque não fica velho.
Cuida do essencial; o que brilha nos olhos é o que é:
eu sou homem você é mulher.
Amor feinho não tem ilusão,
o que ele tem é esperança:
eu quero amor feinho.

Adélia Prado

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Fofoca

Peguei minha sobrinha Lara, de 5 anos, e fui comer um sanduíche no Mac Donald's (é, eu devia ensinar hábitos melhores, mas eu também adoro!). Enquanto comíamos ela me pergunta:

- Tia Nine, o que é que você faz mesmo?

- Sou jornalista.

- O que é isso, que eu não estou lembrando? -, ela questiona revirando seus adoráveis olhões.

Explico. E ela vai confirmando suas pequenas teorias sobre o jornalismo tecendo um ou outro exemplo sobre o assunto e chega a conclusão de que eu escrevo as histórias que me pedem.

- É mais ou menos isso -, eu digo.

Ela põe mais algumas batatinhas na boca, pensa um pouco e, como se quisesse me dizer que também é capaz de exercer a função, ela solta:

- Tia Nine, você nem imagina! Eu já aprendi um monte de palavras na escola.

- Nossa! Que legal Larinha! E de qual delas você mais gosta?

Depois de me explicar que só não gosta da palavra bolacha, ela manda:

- Fofoca!

Gente, será que essa menina pegou o espírito da coisa? Prefiro acreditar que ela esteja apenas na fase do "F".

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Esquisitinha você, hein?!



Não sei se já mencionei aqui o quanto minha mãe era impressionável e medrosa. Ela era. Um dia, ainda sem ter consciência da importância dessa informação, eu acordei e fui direto pra cama dela.

- Mamãe, hoje eu me vi dormindo lá de cima do armário – eu mandei na bucha.

Ela se benzeu, me olhou com uma cara tão estranha e tão assustada que resolvi enterrar o assunto de vez, apesar de o fenômeno me ocorrer ocasionalmente.

Muito tempo depois, eu já estava na faculdade, a coisa ficou feia de vez. As projeções astrais eram constantes e, se é que posso usar a expressão, perigosas. Um sábado à tarde eu me peguei brincado de passar embaixo dos ônibus em movimento na Avenida Anhangüera! Era tão assustadora a facilidade com a qual eu me desprendia do meu próprio corpo que fui ler sobre assunto. Fiquei sabendo que isso se chamava projeção astral ou projeciologia e que existiam estudos importantes sobre o assunto e que a própria medicina já se interessava por ele.

Segundo o Instituto Internacional de Projeciologia e Conscienciologia (IIPC), a projeciologia “é um ramo ou especialidade da ciência Conscienciologia, que estuda as projeções energéticas da consciência e as projeções da própria consciência para fora do corpo humano, ou seja, das ações da consciência operando fora do estado de restringimento físico do cérebro e do corpo biológico. Além da experiência fora do corpo propriamente dita, a Projeciologia também investiga dezenas de fenômenos projeciológicos correlatos tais como: bilocação, clarividência, experiência de quase-morte, precognição, retrocognição, telepatia e muitos outros.”

Por volta dos 15 anos tive também uma experiência de bilocação, ou seja, estar em dois lugares ao mesmo tempo. Segundo relatos, eu teria me despedido de uma amiga, mas no momento exato que ela partia, eu dormia tranquilamente na casa dos meus avós. Eu bati o pé que dormia, tinha provas de que eu dormia, e eles tinham prova de que eu tinha ido. Looooouco! Sei que é estranho, mas acreditem: é muito mais pra mim.

Não sei porque, talvez por uma necessidade de racionalidade, talvez pela descrença das pessoas em relação ao assunto, boicotei esse processo e somente em raríssimas ocasiões ele me ocorria conscientemente. Visitas a pessoas conhecidas e de quem eu sentia falta e viagens a lugares exóticos foram alguns desses episódios de projeção astral. Uma vez, sobrevoei (ai, é sempre duro relatar essas coisas sem pensar quantas pessoas não devem me achar maluca) uma floresta densa, voando de costas, num carinho dos deuses.

Volto a pensar no assunto agora porque isso me ocorreu duas vezes recentemente. E, nesta noite, conscientemente, estive num lugar que não existe nesse mundo, numa cachoeira de névoa verde, que desembocava num lago doce e de águas com consistência bizarra. Acordei às 5 da manhã com uma paz inédita, algo curativo e completamente restaurador. Liguei o rádio, sentei na cama, abri uma fresta da janela e não pude deixar de pensar nas vantagens de ser bem esquisitinha!

quinta-feira, 30 de julho de 2009

Descoberta

Me perdoem os que já conhecem, mas não resisti à idéia de partilhar com vocês minha descoberta, ou melhor, uma amostra dela. Tks Igor!


sábado, 25 de julho de 2009

Da herança que eu posso deixar


Amo elogios (e quem não gosta?!), mas aqueles sinceros que, por isso mesmo, estão cada vez mais raros. Minha mãe sacou isso ainda na minha infância e, para atrair meu interesse, fosse no que fosse, ela simplesmente ia extraindo algo de bom no que eu fazia até que eu pudesse fazê-lo realmente bem. Elogiar era sua forma de me incentivar. E foi assim, no rastro de seus elogios, que fui tomando gosto por coisas bem importantes pra mim, como escrever e cozinhar.

Mas, como sou uma menina espertinha, fui crescendo e aprendendo a descartar a maior parte dos elogios que chegavam até mim por identificar aquele tom de praxe que descoloria esses pequenos agrados que eu gostava tanto na meninice.
Outro dia, porém, recebi o melhor elogio que alguém poderia me fazer. Ele chegou cheio de aceitação, como que planando na minha alma, e me emocionou de um jeito calado, adulto.

Viajando com meu irmão, e trocando idéias amigavelmente, fui surpreendida quando ele disse que rezava para que sua filhinha de 5 anos saísse a mim, que herdasse minha personalidade e que encarasse a vida como eu. Um anjo passou antes que eu me ouvisse dizer que o preço que eu pagava pra ser eu mesma era alto demais. Ser forte, talvez a principal característica da tia da Lara, é tarefa árdua, assim como é hercúlea a missão de ser fiel a si mesmo.

Para ela, que já herdou muito da minha personalidade independentemente dos anseios de seu pai, desejo apenas que, como a tia, Lara DECIDA ser feliz. Porque isso – ser feliz – é uma questão de atitude, de resolução e, principalmente, de coragem.

terça-feira, 14 de julho de 2009

O colecionador de loucos



Muitas vezes eu me surpreendo com a minha capacidade de aceitar diferenças e compreender os mais desvairados atos das pessoas que me cercam. Mas, o fato é que pra mim é fácil aceitar, me adaptar e seguir adiante. Minha mãe já me dizia que minha maior inteligência era a adaptabilidade. Tava certa, a Delux! Mas, andei me perguntando esses dias de onde vem tanta facilidade para encarar as coisas mais absurdas com a maior naturalidade. Tive de gargalhar com o meu exercício de pensar nas pessoas com as quais convivi durante toda a vida: os normais eram exceção! Meu avô materno, por exemplo, colecionava loucos.


Morando numa cidadezinha minúscula e sem hospício, ele recolhia da rua os loucos que não tinham onde morar e que mendigavam aqui e ali. Um deles era a Guilé. Ela passava banha de porco na cabeça como se fosse remédio e enrolava tudo com pano, preso por quatro pequenos nós, por causa da “zoada” dentro da caixola. Nos momentos de ataques, ela saía pela casa gemendo, entrando e saindo num cômodo e outro da casa, como se isso pudesse despistar a tal zoada.


Baixinha, um tanto corcunda e já bem velhinha, Guilé era amada por todos nós por sua gargalhada estridente, mas isso não a imunizava das nossas artes e dos mil e um remédios que os netos-capetas do meu avô cismavam que poderiam curar o zunido dentro da sua cabeça. Ela tinha o nariz gigantesco e como aquele barulho me intrigava um bocado, imaginei que se colocasse um monte de perfume num daqueles frascos de plástico e pedisse pra Guilé cheirar forte ela ficaria curada. O problema é que quando ela cheirou beeeeeem profundo eu apertei a embalagem, o que fez jorrar perfume até o cérebro! Como meu remédio falhou, tive de aguentar a bronca.


O Joelice era um grandalhão, branco, de traços bonitos, mas sem capacidade até para se limpar. A tarefa cabia a minha avó, que, no balanço geral, era quem pagava o pato pelas atitudes ditadas pelo coraçãozão do meu avô. Joelice passava suas horas revirando os olhos, balançando a cabeça de um lado para o outro e cantando canções quase inaudíveis. Acho que era um anjo, meio fedido é bem verdade, mas um anjo bom.


O Wilton, filho da Guilé, que mora com a nossa família até hoje, tem um olho azul e um marrom e sua principal característica é o destempero na fala. Bastava a gente perguntar: o que foi Wilton? E ele soltava o que tinha em mente, numa confusão louca de palavras que normalmente começava por meeeeeeeer ou boooooooost. E isso bastava pra gente se matar de rir porque ele não parava nunca e ia soltando impropérios contra quem passasse pela sua cabeça.


A Mariquinha, que também ainda vive conosco, é o contrário. Falar pra ela é exercício difícil. Só pra se ter uma idéia, loucura, por exemplo, vira “nucura” na pronúncia dela. O negócio da Mariquinha, que deve estar aí com seus 67 anos, é ficar bonita e achar namorado. Pra isso, ela não mede esforços. Se ela te dá uma pimenta de presente, pega o lápis e papel e anota o pedido porque ela vai cobrar alguma coisa. E logo! Eu não enrolo e sempre que ganho abóboras, já pergunto logo o que ela quer. Normalmente são vestidos brilhosos, dourados, batom regateiro ou flor de plástico para colocar no cabelo. Sua melhor amiga, a Liquor, falava exatamente igual, era tão vaidosa quanto, com a diferença de que ela ria, ria, ria... até em velório.


Meu avô também não era o mais normal dos avôs. Alto, muito branco, olhos azuis profundos e bem barrigudo, ele usava camisas com furos feitos pelas faíscas que caíam do cachimbo que ele fumava sistematicamente. Mesmo quando não estava aceso. Desavergonhado, principalmente quando ia tomar banho de bica na fazenda, ele passava por quem quer que fosse nu, pelado, pelado, nu com a mão no bolso. Seu espírito era de um menino arteiro e ele nem pensava no politicamente correto antes de sacar um dos seus métodos infalíveis para educar seus netos, como dar um tiro de revolver pra cima, só pra ver a molecada correr da areia amontoada para uma reforma e sobre a qual uma dezena de crianças brincavam.


Outra vez, eu ainda nem sonhava em nascer, ele tirou de um andarilho uma criança que era maltratada diariamente. Acampados perto da casa dele, homem e menino viviam uma relação doentia marcada por surras e exploração, até o meu avô ameaçar o tal mendigo e oferecer abrigo para a criança, que viveu com ele até a vida adulta. E histórias como esta tem milhares, desse ser humano que não era nada, nada, politicamente correto, mas que tinha atitudes. Positivas, na minha avaliação.


Numa outra oportunidade, contarei sobre os loucos menos evidentes que sempre me cercaram, mas nem por isso menos adoráveis. Esta amostra é só pra me convencer mesmo que "nucura" pouca é bobagem!

terça-feira, 7 de julho de 2009

Minha vida nos meus sonhos


Juro por Deus que, se eu fosse rica, mandaria instalar aqueles sistemas de vigilância eletrônica com câmeras pra todo lado no meu quarto, só pra rir das loucuras que me acontecem durante o sono. Apronto cada uma, me flagro em cada situação... sem brincadeira, tenho de rir, mas isso depois que o coração volta para o lugar.

Hoje, por exemplo, acordei com meus próprios gritos, braço em riste apontando a cama enquanto via uma aranha pequena se transformar num caranguejeira enorme andando sobre o meu travesseiro até desaparecer no canto da parede. Não vi (não mesmo) a hora que saltei da cama, mas me lembro de puxar as cobertas e jogar os travesseiros no chão até cair ficha: eu estava sonambulando! É impressionante esse limbo entre a realidade e o sonho. Ao mesmo tempo que o meu cérebro registrava os meus gritos e me alertava que eu estava de pé, uma outra parte dele continuava dormindo e sonhando com a tal aranhona. Tudo ao mesmo tempo agora.

Episódios como esse são comuns pra mim, apesar de me lembrar de bem poucos. Mas, ando, converso, acordo com meu próprio grito por socorro, sento na cama, arrumo coisas invisíveis, chamo por pessoas distantes, faço ginástica (essa é diária) e gargalho! Fora as vezes em que falo com pessoas que não estão mais por aqui. É. Daí acordo, na maioria das vezes sem ter sequer idéia das minhas peripécias noturnas e, evidentemente, reclamo de cansaço! Me lembro até hoje de um episódio superintrigante pra mim, ocorrido na minha infância. Acho que tinha uns seis ou oito anos e, completamente confusa, acordei no meio da rua, com a manhã já avançada e a uns cem metros da minha casa, só de camisola. Morri de vergonha!

Minhas amigas choram de rir contando uma história da época da faculdade quando, depois de dormirmos muito tarde e cansadas por causa de um trabalho, uma delas reclamou que ouviu o patinar de uma barata. Irritada com os cochichos e sem acordar, eu teria acendido a luz, pego uma chinela e, com uma impressionante mira, atingido em cheio a barata. Então, eu teria apagado a luz, virado para o lado e voltado a dormir. Eu mudei o tempo verbal de propósito porque não lembro de muita coisa e quem me conhece bem sabe que de pontaria eu sou péssima! Incrível como ganho habilidades extras enquanto durmo!

O sonambulismo tem explicações científicas (transtorno classificado como uma parassonia do sono, também chamado noctambulismo, durante o qual a pessoa pode desenvolver habilidades motoras simples ou complexas), psicológicas (reflexo do inconsciente) e até espíritas (o sonâmbulo é um médium e o fenômeno representa a independência da alma). Mas, pra mim, é um mistério. Um completo e cansativo mistério! Cansativo para os vizinhos também, porque deve ser bem desagradável acordar de madrugada com uma louca gritando socorro ou tendo a cama invadida por aranhas. A coisa é tão grave que, hoje, mesmo depois de uma varredura completa no quarto, preferi dormir no sofá. Eu hein?!

terça-feira, 30 de junho de 2009

Primo rico, primo pobre

Meu pai me contou há alguns dias que a historiadora Esther Barbosa Oriente, se referiu no livro Dom Pedro II, Imperador da Cultura (Editora Kelps, 445 págs) ao parentesco de minha família (Abreu) com a de d. Pedro II, citando, inclusive, o nome de uma prima minha na obra. Gente, vai dizer que vocês ainda não tinha notado toda a minha realeza? É claro que sim! Essa pessoa loira, articulada, chique, elegante, amante dos bons vinhos e loooooouca por champanhe só podia ser da realeza!

Nome também conta né, gente? Pois é, apesar de eu não ter o tradicional Maria combinado com um nome bem antigo e bem feio, Aline significa fidalgo, nobre. Fino, fala a verdade? Porque vocês imaginem seu me chamo Rosilene, Gracilane, Charlene ou Rosicleide? Além do mais, como uma boa nobre, eu carrego quatro nomes, um deles em homenagem ao meu bisavô. Coisa de gente fina. E solteira. Porque casada, vou ter que acrescentar mais um. Mas, não pode ser Silva, Souza essas coisas, porque aí queima o filme, né? Ainda bem que chegou ao fim a Era Sapos!


Geeeeeente, nasci pra esse negócio de realeza, de ser princesa, rainha, essas coisas. Não, e sabe qual era minha história preferida quando criança, aquela que o príncipe, pra descobrir qual das suas pretendentes era a verdadeira princesa, colocava um grão de ervilha debaixo do colchão. Eu tinha cer-te-za que eu conseguiria descobrir a ervilha, mesmo se ela tivesse debaixo de 10 colchões fofinhos.


Ai ai, mas, olha até eu descobrir essa ervilha... santo Deus! Mas, na verdade, na verdade, na verdade, trabalho assim alucinadamente por hobby, né? Mas, com essa história, estou revendo isso. Afinal, a nova moda agora, imposta pelos parentes ingleses, é a realeza querer se misturar com seus súditos. Além do mais, valorizei meu passe, né? Também, não é todo mundo que tem alguém do ramo de Petrópolis em seus quadros. Por um bom salário, concedo a honra de ficar. Vai ser bom pra imagem.


O chato nessa história toda é que descobri que estou de luto. Meu primo de Petrópolis foi umas das vítimas do 447, que fazia Rio - Paris. Até pra morrer essa gente é fina, né não?


P.s: Se for me deixar um comentário, não esquece o Vossa Alteza, tá?

segunda-feira, 29 de junho de 2009

So far away

Da distância,
o que eu sei?
Que mora longe!

sábado, 27 de junho de 2009

Hibernando

Sinto uma falência de quase morte

e hiberno tardes de sábado.

Do que chamam mesmo essa coisa

que, depois de tudo,

me ressuscita

na lembrança de um cheiro?

domingo, 21 de junho de 2009

Meu pai e a filha maldita


Era dele o beijo de boa noite, o agasalhar cuidadoso das cobertas, o olhar gentil na hora das broncas, o amor que transbordava incontrolavelmente quando a gente chorava, era ele quem fraquejava diante das nossas birras e vontades, era ele quem nos acordava pra ir pra escola fazendo ginástica para espantar a preguiça, quem preparava o café-com-leite quentinho, era dele o olhar orgulhoso diante de um boletim nem tanto, a voz que me assegurava quando eu ficava com medo do Zé Ramalho, era ele quem defendia meu caráter, meu gênio.


Devo a ele uma coleção de presentes verdes (por causa do Goiás e do Palmeiras), uma relação saudável com o material, a infância segura, o orgulho que sempre pude sentir de ser filha de homem exemplo de honestidade, de correção. Devo a ele uma mãe e uma família feliz. Meu pai sempre foi meu herói, até eu descobrir que ele era gente. Gente de bom coração, gente que erra e acerta, como eu.

Mas, uma das coisas mais bacanas que o meu pai fez por mim foi me ensinar a amar os livros, que ele comprava aos montes nos inspirando sonhos grandiosos na pequena biblioteca que tínhamos em casa. Quando completei 14 anos mais ou menos, ele me jogou no colo uma relíquia: A Filha Maldita, de Émile de Richebourg. Raro, datado de 1800 e alguma coisa, o livro conta a história de uma filha amaldiçoada pelo pai e vítima de uma série de tragédias pessoais. O detalhe é que o volume que continha o folhetim francês, de tão antigo, não tinha as últimas folhas. Não conseguimos saber o fim da história de Lucila, personagem principal do livro.

Algum tempo depois ele emprestou o volume e, como acontece sempre, não devolveram nunca mais. Meu pai, por sua vez, esqueceu a quem tinha emprestado, e a história se perdeu pra sempre. Desde então, passamos a procurar o livro pra comprar e nada. Feiras de livros, sebos, lojas e lojas... nada. Passamos mais de 20 anos procurando o volume, sem sucesso. Inscrita em mil sites da internet que vendem livros raros, no fim do mês de abril, eu encontrei Lucila em São Paulo, na casa de Ângela.

Foi emocionante pra mim botar os olhos naquelas páginas tão sonhadas, de escrita tão rebuscada, sentir aquele cheiro de novo e, com gosto, conferir a palavra fim na última página. Meu pai e eu poderíamos, enfim, saber como terminava aquela história, que durante tantos anos nos aproximou nesse objetivo comum de encontrá-la.

Então, coloquei os dois volumes numa caixa, enrolei com uma fita verde e mandei pro meu velho. Senti uma gratidão enorme por aquele papelão quadrado que guardava mais que aquelas páginas tão especiais pra nós, mas todo o amor de uma filha, esta, sim, bendita pela sorte do pai que tem.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Pas mal


Há três dias completei um ano de blogueira. Um ano dividindo meus momentos, pensamentos e ao mesmo tempo me descobrindo. Foram 95 posts paridos nesses 365 dias. Fora o que compartilhei aqui, preciso dizer que:




meu cabelo cresceu

minha sobrinha (infelizmente) não fala mais "mojoca" no lugar de mandioca

mudei de trabalho (minha eterna busca por qualidade de vida)

fui morena,

depois loira de novo (born to be blonde),

minha amiga Pat, enfim, resolveu ser blogueira também (visitem!)

li uma pancada de livros ótimos e comentei bem poucos

tomei muitas e boas garrafas de vinho

aprendi a tomar chimarrão

Graham Bell continua sendo muito amado por mim

tenho planos para uma nova viagem

namorei o brad pitt por alguns dias

dei o fora nele

levei uma pancada feia

quebrei a unha

fiz amigos novos

meu grupo das quartas se desfez

desisti de fazer economia

continuo lamentando ver menos meus amigos do que gostaria

conheci Gramado

tenho um chefe novo

comprei uma monte de canecas novas

ganhei também

ri até chorar por mais de uma vez

Juro que não dei nenhuma rata nova

viajei

e, sim, continuo cheia de sonhos... ;)

terça-feira, 9 de junho de 2009

Voando nos meus precipícios

Outro dia, refletindo profundamente sobre a minha vida, cheguei a conclusão que nunca levei nada muito a sério. Graças a Deus! Não perdi meu tempo, meu precioso tempo, tentando ser perfeita, tentando fazer tudo certo demais ou evitando errar. Faz tempo que aprendi o quanto é bom dar com a cara no equívoco porque é assim que melhoro como pessoa, é assim que me enxergo, que tenho uma fresta do meu espelho. Me permito, me dou o direito de viver sem o peso da perfeição. Talvez isso seja reflexo da minha personalidade impulsiva, mas andar de cabeça baixa para se antecipar a possíveis precipícios não faz, definitivamente, o meu estilo. Ou enfio o pé na jaca e vivo, simplesmente vivo, ou então, nada feito.

Na minha família é comum eu ouvir, por debaixo dos panos evidentemente, que eu sou muito “absoluta.” Absoluta, na ponta do lápis, significa imperioso, independente, único, sem peias nem restrições. Não pensem que o “absoluta” da minha família é um elogio puro, mas uma mistura disso com uma boa dose de crítica, afinal, minha família não é diferente das outras e talvez “preferisse” alguém mais tradicional. O problema é que a parte que eu gosto nesse latifúndio é, justamente, não ter peias ou restrições.

Não que eu seja irresponsável, ao contrário. Sempre fui boa aluna, boa filha, profissional, careta, não fumo, não uso drogas e sou até bem conservadora em certos aspectos. Isso pra explicar que não é de um estereótipo rebelde que falo. Nunca fui louca, nem jamais passei essa imagem. Mas, eles têm razão. Sou absoluta! Vivo a vida, com a urgência que ela tem. Não sou de igreja, mas tenho uma fé tão inabalável que a vontade de Deus é imperiosa, tenho uma certeza tão grande de que o melhor vai ser feito sempre, que não tenho outra escolha a não ser viver, bestamente, viver!

Mas, me enerva essa idéia de se precaver contra a vida. “Dê duas voltas antes de entrar na garagem; tome cuidado, não seja afoita. Guarde sua coragem na sacola e espere, você pode apanhar.” Óbvio e quase dispensável dizer que não ando com uma tapa na cara procurando erro a granel. E críticas, e alertas dos bons amigos são sempre bem-vindos. Mas errar faz parte da única ambição verdadeira que tenho: evoluir! Magistralmente, Clarice Lispector ousou dizer que se alguém a empurrasse de um precipício, ela diria:

E daí, eu adoro voar!

É com essa leveza que quero levar a vida: voando nos meus precipícios com fundos de mola!

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Sempre querendo mais


Uma vez li um texto da Martha Medeiros que dizia que alguns relacionamentos eram como aqueles banheiros apertadinhos que, para que um pudesse entrar, o outro precisava sair. Tudo isso numa referencia à desarmonia entre os casais, às diferenças de visão de mundo, enfim, à falta de sintonia.

Num outro texto, que não estou certa de ser dela, alguém fazia uma analogia entre os jogos de tênis - onde o casal jogaria um contra o outro, visando sempre o ponto fraco do adversário - e o frescobol, quando eles jogam em colaboração, pensando sempre no outro como a melhor maneira de acertar (mesmo que nem sempre isso ocorra). Tá.

Ô Martha, como é que a gente faz pra jogar frescobol num banheiro grandão e não deixar a bola cair?

sábado, 6 de junho de 2009

Dia desses cheguei a pensar que ...

a morte às vezes é tão cruel que te surpreende ainda em vida e, sarcasticamente, desiste da foice.

terça-feira, 2 de junho de 2009

Só tem louco!

Que eu sou maluca, todo mundo sabe e não dá mais manchete. Mas, me consola saber que tem casos muuuuuito mais graves. Outro dia, estou eu no trabalho, sentada comportadamente no meu computador, me entra um senhor, encorpado, cabelos já bem grisalhos, mas aparência de 45 anos. Com uns papéis na mão, ele me pergunta se está no serviço social:


- Não, aqui é a imprensa.


- Imprensa? É aqui mesmo que eu quero, então, ele afirmou levantando a voz antes de completar:

- Porque esse negócio de assistente de juiz maltratar a gente é um absurdo.


- Olha, aqui é imprensa sim, mas quem vai ajudar o senhor é a Corregedoria, eu digo já anotando o número da sala pra ele.


- Mas é a imprensa que eu quero!, bradou. Porque aqueles trilhões lá, aquele petróleo é meu, não é deles nãaaaaaaao! Minha namorada já teve aqui. Agora, eles virem brigar com a gente?! Nãoooo. Mas, não tem nada a ver!, virou as costas e foi saindo.


Diante da minha estupefação, minha amiga Pat salva:


- então fecha a porta!

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Gal (fe) 2



Pois é gente. Esse negócio de gafe é sério mesmo. A gente conta uma e vai lembrando de um monte de outras. Mas, eu estava em Budapeste, acompanhada do meu fiel escudeiro Rimene, quando voltando do aeroporto e entrando no metrô, escutamos, quase como um milagre, alguém dizendo:

- Nossa, que surpresa ouvir português aqui na Hungria!

Gente, não é por nada não, mas surpresos estávamos nós porque o cara, nada mais era que um tradutor de húngaro (língua mais difícil do mundo!) para português. De cara e quase hipnotizadas, seguimos o moço (o mais gente boa do planeta terra) e ele nos levou aos melhores lugares de Buda e de Peste. Nunca consegueríamos conhecer tão a fundo a cidade e seus costumes se não fosse por ele.

Ai, lá vem maria rateira, estreando aquela que seria a menor gafe desses dias maravilhosos em Budapeste. Com uma unha machucada, peço a ele que me compre alguma coisa que fizesse passar a dor, mas como já era tarde da noite, entramos numa loja de conveniência e ele me diz (pra quê meu Deus?!) que era vendido num vidrinho vermelho o medicamento que precisava.


Nisso eu vejo, perto do caixa, uns vidrinhos vermelhos e azuis que lembravam Rifocina, Merthiolate, enfim. Pego os vidrinhos, ergo bem alto para que ele enxergasse lá de longe, e pergunto:


- Anjo Chico (é como eu o apelidei, devido as circunstâncias), é esse?

E ele fez lá umas caretas, mas, eu sem entender aquela caretada toda, balançava ainda mais o vidro:

-Esse aqui ó, parece com Merthiolate, expliquei


-Abaixa isso peloamordedeus, ele me disse. É lubrificante íntimo!!!


Toimmmmmm.

Mas, inspiração é o que não me falta, né gente? Foi nada não. Dia seguinte, ele nos leva pra visitar um castelo magnifíco, onde vivia Sissi, e (pra quê meu Deus?!) inventa de nos ensinar a falar em húngaro a frase "Oi, nós somos jornalistas brasileiros" algo que soava como:


- Sióoo brooosil wilchaguirô vacjoke.


Pronto: virou meu mantra e eu repetia a frase, e repetia, tentando encontrar a pronúncia correta. Perspicaz, eu noto que ele, me corrigindo, entortava a boca para o lado, por onde também deixava escapar um ventinho.


Inteligente, matei a charada. Era isso! Assim como os ingleses batem com a língua nos dentes ou como os franceses fazem biquinho, pra falar húngaro bastava entortar a boca pra direita:


- É isso Rimene, eu dizia empolgada e com a boca torta!


- Sióoo brooosil wilchaguirô vacjoke, eu repetia, estranhando a cara do meu amigo, que se retorcia em caretas que não ajudavam em nada na pronúncia do húngaro.


-É isso Anjo Chico, tô falando direito?, eu perguntava.


Rimene, delicado, me dá um cutucão, e sussurra:


- Ele tem paralisia facial, Gal!!!!!!!!!!!


Tinha.

domingo, 24 de maio de 2009

Pra dizer tudo com muito pouco


Amar com fé eu vou!

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Meu nome é Gal, ops, meu nome é Gafe!


Meu nome devia ser Aline Leonardo Gafe e não Gal, como insiste em me chamar meu amigo Rimene. Porque eu sou A GAFE em pessoa. Faz tempo que eu não cometo uma séria, mas hoje pela manhã, conversando com minhas colegas de trabalho, eu relembrei uma de doer!

Foi há uns seis anos, sei lá, talvez mais, talvez menos. Me lembro apenas que era época dos jogos eliminatórios ou amistosos (o que é que eu sei!) para a Copa do Mundo. Eu trabalhava na redação do Popular naquele esquema de exclusividade, então, faltava só levar o colchãozinho: vivia e respirava redação.


Saí um dia de lá, já tarde da noite, e fui para um barzinho ali por perto. Sentei e fiquei prestando atenção no jogo que estava sendo exibido no telão. Era a seleção e eu me entreti com aquilo. De repente, não mais que de repente, a voz do Galvão Bueno se exalta:

- Vai Ronaldinho gaúcho, esse menino é demaaaaaaaaaais, e ele driblou um e driblou dois e lá vai ele! Roooooooooonaldinho Gaúcho...

Nisso, eu levando da cadeira e feito louca com o futebol do menino, começo a gritar:

-Ai meu Deus, vaaaaaaaaaaiiiii Ronaldinho, pelo amor de Deus! Driblou outro, mais um, meu Deus.... Geeeeeeeeeeeente (bato na mesa), gooooooooooooooooooooool!!!!!!!!!!

Não contente, eu viro pro lado e começo a pular de felicidade de ver tanta habilidade junta no futebol e, neste exato instante, eu percebo o bar in-tei-ro me olhando de boca aberta, em silêncio.

Olhei pra mesa onde eu estava com aquela cara de 'uai, quem morreu?' e algum caridoso me olha, me puxa pelo braço, me senta, e solta a bomba:

-É reprise!

Precisa dizer que eu queria sumir?

sábado, 16 de maio de 2009

Olha o picoléeeeeeeeeee!


Meu terceiro mouse em um mês começou a implicar comigo e desci com a intenção de ir até a Fujioka da Assis Chateaubriand para trocar o produto. Quando eu saí do elevador escutei uns gritos estranhos e me apressei pra ver o que o estava acontecendo. O porteiro quando viu minha expressão, entre a curiosidade e a apreensão, começou a rir:


- Ele passa por aqui todo dia, nunca viu não?


- Não!, e fui esticando o pescoço pra saber o que acontecia do lado de fora.


Um picolezeiro, desses que empurram carrinho pelas ruas, gritava, mas gritava mesmo, a todo pulmão:


- Picolé de cajáaaaaaaaaaa

- Picolé de rapaduuuuuuuuuuura

- Picolé de beterraaaaaaaaaaba!


Negro retinto, camiseta verde com a marca da sorveteria, braços musculosos, talvez de tanto empurrar o carrinho, tênis confortáveis e um jeans recordista em bolsos, ele foi subindo a 8-A aos berros com um andar meio cambaleante que me fez pensar se ele não estaria bêbado. Mas logo pensei que seria difícil conseguir tanta disposição em alguém alcoolizado.


Pouca gente na rua, fiquei debruçada no muro da garagem pensando na seriedade com que esse moço abraça seu metier... Admirável sua vontade de conseguir diminuir o peso do carrinho. Mas, não pude deixar de rir quando pensei na energia desperdiçada com sabores tão ruins!

domingo, 10 de maio de 2009

Saudade é madrasta


Ontem fui ao shopping com uma amiga minha que queria ajuda pra escolher uma bolsa pra mãe dela. Shopping cheio, gente com sacolas, filas pra fazer pacote de presente, participar de promoções, essas coisas. Há alguns anos não compro presente para o Dia das Mães. Ao contrário, fico tentando lembrar os presentes que ganhei da minha, enquanto ela estava por aqui. E, hoje, já bem cedo, essa idéia me ocorreu de novo
feito um motorzinho na minha cabeça: o que minha mãe me deu de mais valioso? Quais foram os momentos mais bacanas que vivemos juntas? E, claro, uma enxurrada de lembranças foi chegando.

Me lembrei de uma vez que ela, decepcionada com o resultado de umas encomendas que havia feito para que eu pudesse viver um personagem num desfile de 7 de Setembro, desmontou um vestido novinho que ela havia usado uma única vez, para fazer um lindo pra mim. Também me recordei dela descendo a rua de sombrinha em punho (odiava sol) comigo ao lado indo pra casa de uma costureira que tinha estudado comigo na infância e de quem eu não me lembrava mais com clareza: "Minha filha, o nome dela é tal, estudou com você não sei onde e ela te adora", escutei ela me dizer num gesto solidário não só da mãe que quer proteger a filha, mas, principalmente, de prestigiar a moça, humilde e de família pobre.

Também me veio à memória o dia em que ela viu um vestido azul na vitrine de uma confecção, que só vendia por atacado, e decidiu naquele exato instante que a roupa era minha, tinha sido feita pra mim.

- Delux, é atacado, tem de comprar no mínimo seis peças. Esquece!, eu disse.

- É seu, ainda que eu tenha que comprar os outros cinco!, disse entrando na confecção, de onde saiu um quarto de hora depois com o vestido debaixo do braço e um brilho no olhar tão intenso que chegava a ser infantil!

E bastou fechar um pouco os olhos pra lembrar dos últimos dias que passamos juntas. Enquanto meu pai afivelava minhas malas, organizava tudo que era necessário pra minha mudança pra Europa, a gente se divertia. Eu ensinava a ela usar a internet e, grata, ela me ensinava a fazer crochê. E do nada, no meio disso tudo, ela me colocava no colo em silêncio, como também foi nossa melhor conversa.

Estávamos na fazenda do meu pai e ficamos só nós duas na casa. Ainda estava cedo e, então, colocamos nossas cadeiras na área, onde já batia um pouco de sol, e ficamos conversando até que ela cochilou e eu, aproveitando, também fechei os olhos. Compreendi naquela hora a imensidão do laço que nos unia e foi assim que o silêncio fez parte de um dos momentos mais perfeitos da minha vida.

Relembrando isso tudo, entre outras coisas, sinto uma vontade enorme de ler a última carta que ela me escreveu e onde ela dizia: "Nina, minha filhinha, continue com a coragem que você sempre teve e tudo dará certo. A saudade, a sua falta é indescritível, mas acima de tudo está o nosso (ela era sempre ela e meu pai) amor por você e nosso desejo de ver você realizar todos os seus sonhos. Isso, sim, nos dá força e nos faz felizes quando sentimos a distância que nos separa."

Depois de reler isso, concluo, sem dificuldade, que a saudade realmente é madrasta, mas que herdei dela a coragem de acreditar que, sim, tudo dará certo. Afinal, o que ela me deixou de mais precioso foi a honra de ser sua filha e carregar comigo – ainda tão vivo - o privilégio de seu amor.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Solteira?!


Muitos de vocês que passam aqui pra uma caneca de café comigo são também aqueles que frequentam o meu Orkut. Então, concluo que já devem ter reparado numa pequena mudança em relação ao meu estado civil: solteira!

Hummmmm...

Aposto que vocês não relacionaram esse pequeno detalhe ao fato de Brad, my Brad, estar no Brasil e aqui pertinho de mim, né? ;)

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Toma lá dá cá

Ah, meu Deus!
Lá vem Ele
me testar mais uma vez,
saber se aguento
ou se arrebento.
Já Te disse meu caro:
manda, que eu encaro!

sábado, 25 de abril de 2009

...

Um dia
vou ter todas elas:
pastoreadas,
encurraladas,
adestradas,
adequadas,
pra descrever
o que, por enquanto,
entala.

Lost

Saudade das poesias que perco
minha alma no lixo
em guardanapos de papel
Profanados
meus instantes
meus amores
em rumores noturnos
de catadores de papel

terça-feira, 21 de abril de 2009

Prigui


Sábado passado me dei o direito de não fazer nada, absolutamente nada. ôooooo coisa boa! Não sei de onde veio essa idéia de que a gente TEM de se divertir, de que felicidade tem de estar intimamente vinculada ao movimento, a fazer coisas. Basta reparar no escritório segunda-feira de manhã:

- E aí, o que você fez no fim de semana?

Ou você lista um monte de atividades bacanas, interessantes ou você é meio bocoió das idéias, meio leso ou pior, INFELIZ E TEDIOSO!

Gente, é por isso que o povo anda estressado! Ficar sem fazer nada é saudável também. Claro que se divertir, sair, festejar, fazer-tudo-ao-mesmo-tempo-agora é maravilhoso, mas a gente tem de parar de se sentir culpado por não fazer nada. Pois é, sábado passado fiquei da cama pra tv, da tv pra mesa, da mesa pra tv e dormia e acordava e comia... ôooooo tédio maravilhoso! Cansei de não fazer nada e fui tomar um sorvetinho no shopping e voltei pra casa pra ver um filminho bacana e comer de novo. 

Hoje é feriado e meu espírito tá pedindo um movimentozinho, mas se eu mudar de idéia, minha cama está no mesmo lugar. E na minha cara você pode ver que estou muuuuuito feliz! E descansada, né?

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Quer casar?

Sou mulher e sei que o sonho da gente - pelo menos no que se refere a amor - é encontrar uma pessoa fiel, romântica e que nos diga poesias. Se o cara for carinhoso, simpático, trabalhador, amoroso e souber fazer massagem.... uhuuuu! Aí fechou!


Agora, se você acha que trombar com um homem assim tá difícil, enganou-se darling!!!! Esse homem pode ser seu com apenas um telefonemazinho de nada. Tá, ele faz algumas exigenciazinhas, mas ninguém é perfeito mesmo. Agora, se você faz questão de moto ou carro, esquece! Esse homem oferece apenas o seu caráter. Ca-rá-ter! Artigo raro no mercado. E, depois, carro e moto andam fora de moda mesmo. Negócio é emitir menos CO2.

Tá curiosa, né? Pois é, mas atiçar a curiosidade faz parte da minha tendenciazinha cupido. Gente, minha mãe sempre me zoava por eu ser a eleita das minhas amigas pra dar conselhos sobre namorados, idéias para conquistar e, muitas vezes, até pra escrever uma coisa ou outra no lugar delas. Bom, mas hoje, não se trata de idéias mirabolantes pra consertar namorado mequetrefe. Meu negócio hoje é indicar um marido, com telefone e tudo para aquelas mais afoitas. Coisa de Deus gente! Perde essa não!



P.s.: Esse simpático candidato deixou o bilhetinho em cima das mesas (das moças apenas) do meu trabalho. Concorrência já formada!

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Um pedaço de Páscoa


Ontem fui ver a minha amiga Pat e, chegando lá, fui recebida por sua fihinha:


- Minha mãe tá tomando banho, tia Nine.


- Ué, loulou, hoje você não foi à aula? - Perguntei.


- Não, titia. Hoje é férias!


- Ah! E férias por quê?


- Porque é Páscoa.


-Nossa! (Eu levo às mãos ao rosto e finjo esquecimento) - O que é Páscoa mesmo que eu esqueci?


- Hum. Hum - ela refletiu - Peraí tia Nine que eu vou buscar um pedaço de Páscoa pra você!

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Até onde vai a sua fé?




Pra não fazer as vezes de intelectuerda ou de jornalistazinha-metida-a-besta procuro não cair em armadilhas simples e classificar rápido demais como mer....cadoria um livro, um programa, um estilo musical. É porque os intelectuerdas muitas vezes não valorizam o simples, o direto e, precipitados, perdem a chance de uma avaliação crítica das coisas.

Vejam o exemplo do cinema europeu. Eu adoro e acho burra aquela história de dizer que cinema europeu é chato, que as histórias não tem finais felizes etc. E eu pergunto: como fazer uma história de divórcio, por exemplo, ter final feliz? É a antítese do final feliz. Na essência! Mas, me desculpem pela volta, não são os próprios europeus que agora andam de olho no nosso cinema se perguntando por que a gente consegue contar histórias de um jeito simples e direto e eles não? Tudo isso pra dizer que acho perigosa a condenação intelectual rasa da qual os realities shows são sempre vítimas.

Pois é. Quando começou a onda dos realities shows eu pensei cá comigo: mer...cadoria. Põem um monte de aloprado lá dentro, que não tem nada pra dividir com ninguém e os bobos aqui ficam vendo briga besta e bunda! Mas, sou curiosa e fiquei na minha. Logo depois do primeiro programa (tô me referindo ao BBB, da Globo), passei três anos fora do Brasil e longe do que de início me pareceu porcaria. Daí voltei e me interessei pela febre dos realities. Claro, não dá pra dizer que é cultura! É entretenimento puro, mas eu a-d-o-ro! Não, dá pra esquecer persogens como o dr. Marcelo? kkkkk

Gente, já disse aqui que sou louca por gente. Adoro as reações, a personalidade, a complexidade do ser humano (pq eu não fiz psicologia, né?). E esses programas se tornaram um prato cheio para meu "estudo" da natureza humana. Gosto de observar quais são os valores aceitos pela sociedade, como e porque são punidas as pessoas, como se formam os vínculos, quais são os apelos, os esconderijos de cada um e como isso reflete em nós, nas nossas identificações, preconceitos e julgamentos.

Então, por que uma menina mimada voltou tantas vezes do paredão? Pra ser merecedor de alguma coisa é preciso ser ter uma história de vida sofrida? Ou é autenticidade que conta? Por que é que um cara que se diz jogador, que maltrata a namorada (incluindo chamá-la de gorda) ganha o programa? Por que a "santinha" saiu logo no começo? Por que o 'jogar limpo' e coerente de um jogador é visto como perseguição? Por que é aceitável uma jogadora prometer não indicar a outra, não honrar sua palavra e ainda sim se sair bem na fita? Quais são os porquês da nossa sociedade? O que valorizamos quando somos todos juízes?

Se eu participaria? Nunquinha-nessa-vida! Gostaria muito de ter creditado R$ 1 mi na minha conta, mas não nasci pra tanta exposição e nem preciso de pseudos-psicólogas como eu pra me dizer se sou amada ou não. Mas vou continuar vendo (inclusive aqueles interessantíssimos do People and Arts), mesmo que seja pra ficar decepcionada como nessa última edição do BBB.

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Atchim!




Gente, por que um cara consegue viver 30 anos (!) com um prego no nariz e eu não consigo conviver um só dia com um ácarozinho-de-nada-nessa-vida?

(http://www.meionorte.com.br/noticias,homem-vive-com-prego-no-nariz-por-mais-de-30-anos,70331.html)

segunda-feira, 23 de março de 2009

O padre, o espiritismo e a Santa


Outro dia, com toda a minha característica intempestividade, falei mal - e não me arrependo - da Igreja Católica no episódio do aborto da menininha de Recife. Pois olha eu aqui de novo, desta vez para elogiar. Hoje fui à Irradiação Espírita, que atualmente frequento menos do que gostaria, e, para minha surpresa, na hora da palestra, vi sendo anunciado o padre (!) Alcides Lima.
- Padre, na Irradiação Espírita?! - Meu irmão e eu nos entreolhamos surpresos.

Pois é. O Padre Alcides foi convidado a falar sobre a família e demonstrou uma sensibilidade enorme ao discorrer sobre a sua vida pessoal, sua família baiana de 15 irmãos, a educação que recebeu, sem se esquecer do novo modelo de família que tem se formado: aquela feita por mães solteiras, tias, pais e mães de filhos diferentes, filhos sem pai e etc. Fala simples, sincera e iniciada com um carinhoso e respeitoso "caros irmãos espíritas." Mas, até aí, nada de surpreendente, fora o fato de ele ser padre e ter aceitado participar do culto.

Confesso que, depois de receber o passe, fiquei observando o comportamento do padre. Quem já foi a um centro espírita sabe que, nesta hora, uma música suave é colocada e a luz é reduzida para estimular a reflexão. Eu, que esperava vê-lo um pouco deslocado ou constrangido, vi um homem com as mãos cruzadas e apoiadas na testa, numa clara posição de reflexão e oração. Depois disso, na hora da prece final, ele se levantou da mesa e, espontaneamente, interrompeu a oradora e, quase como encantado, pegou o microfone e levou muitos de nós às lágrimas com uma oração profunda, confortadora e tão simples!

Eu não conhecia o padre Alcides, mas ele conseguiu me encantar. Na sua fala, ele contou que 12 horas após ter sido ordenado padre, foi procurado por uma mulher alta, negra e bonita que, na bucha, lhe disse que era prostituta, mas que precisava comungar. Ele, então, pediu a todos os santos que o aconselhassem, mas se deixou levar pelo amor.

- Minha filha, qual é o seu nome?, ele resolveu perguntar.
- Santa -, ela respondeu.

Ele não verbalizou, mas eu entendi bem que, com isso, o padre também compreendeu que o sagrado é amar, indistintamente.


quinta-feira, 5 de março de 2009

E daí, se excomungaram?

Eu não sabia, mas no fim do ano passado, ouvi o jornalista espírita Jávier Godinho contando que Jesus só pregou durante três anos e que nenhum dos grandes historiadores da época o citam em seus textos. Daí a gente se pergunta: como, em tão pouco tempo e sem nenhum recurso de mídia, esse homem fez conhecer e, principalmente, perdurar sua palavra? Elementar, meu caro: este homem falou de amor!

Agora, diante da grandeza e do ineditismo do que Jesus pregou, como pode a igreja Católica – que se acha tão dona do Cristianismo – excomungar mãe e médicos que fizeram o aborto da menina de 9 (!) anos estuprada pelo padrasto e grávida de gêmeos?! Porque ainda não vimos nenhum padre pedófilo ser excomungado? E excomungar, gente, no século 21? PELOAMORDEDEUS! Que excomunguem, então!

Já tá na hora da igreja Católica se modernizar, de perceber em que século estamos, que o mundo mudou, que camisinha e anticoncepcional são instrumentos de saúde pública. Acho, sobretudo, que a igreja Católica precisa, finalmente, entender a mensagem de amor deixada por Cristo. Num domingo desses, eu fui à Catedral assisti à missa. Durante a homilia um mendigo entrou na igreja com os braços abertos e apontados para o alto, num sinal claro de devoção. Louco ou não, inadequado ou não, esse homem não foi recebido como se chegasse em casa. Esta é a igreja de Cristo, daquele que prega o amor incondicional? Se é assim, vai ter muita gente se lixando pra excomunhão!

sábado, 28 de fevereiro de 2009

Calculadora estragada



Gente, outro dia, ao receber meu salário, me peguei suspirando e pensando: nossa sobrevivi mais um mês! A sensação era de alguém que escapou de algo grave, que saiu de um perigo e foi tão natural que demorou a vir a reflexão, o pensamento crítico. Caraca! Sempre soube que, como jornalista, não se ganha a vida, sobrevive-se. Mas, nunca, em tempo algum na história da minha vida, essa sensação foi tão palpável. Será a crise a responsável por isso ou será que é porque eu resolvi, enfim, fazer as contas? (Fazer contas pra mim é algo recente, confesso)

O mais engraçado é que ontem, conversando com uns amigos sobre isso, um deles me contou que fez promessa pra não comprar roupa até julho. Quase morri de rir, vejam vocês, porque euzinha mesma também fiz esse mesmíssimo compromisso. ABSURDO! Nan-nan-nan! Não acho absurdo economizar, não é isso. Loucura, inaceitável e inconcebível é ter de apelar pra promessas desse tipo quando se trabalha tanto, quando se dá tanto de si. Peraí, nós, jornalistas, trabalhamos feito escravos, sem sábado, domingo ou feriado e temos de fazer promessa pra não comprar roupa?! Um item básico e, sim, ferramenta de trabalho? Como se nos fosse possível gastar na Harrolds, né?!!!!!! Gente, o nosso nível é Renner!

Por isso é que não ligo se me criticam se digo que a minha causa é minha vida, meu bem-viver. Trabalho sim e, confesso, tenho uma tendenciazinha workaholic. Mas, graças a Deus parei de achar graça em ser explorada. Há algum tempo chutei minha vocação e minha carreira, pela minha qualidade de vida, pelo prazer de ir a pé pro trabalho, de almoçar em casa e de ter horários mais previsíveis. Mas, é isso que eu penso: se é pra ser escrava, se é pra SOBREVIVER apenas, que seja com um pouquinho mais de classe, né?



Ps.: Perdoem o sumiço, mas meu pc está estragado.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

O horário de Deus e o dos homens

Me fazia dar boas gargalhadas o comentário de minha avó quando anunciavam o horário de verão: “o certo é o horário de Deus!”, ela bronqueava. Comigo também é assim. Basta anunciar o horário dos homens e minha agonia começa. Tento dormir mais cedo nos dias que antecedem para tentar adequar meu relógio biológico, fico de mau humor e passo umas duas semanas completamente sonada (não sei se essa palavra existe de fato e de direito, mas eu já a adotei) assim que o horário é adiantado em uma hora. Daí, como minha melhor qualidade é adaptabilidade, depois desse período já começo a sair acordada de casa. Grande passo!

Acho que o drama de todo mundo que trabalha muito é não ver o dia passar. Saímos de casa cedo e voltamos à noite, como bons operários. Mas, com o horário de verão, saio do trabalho com o sol ainda batendo no rosto e isso me dá um prazer enorme de viver. Tenho ânimo pra pegar a bike e dar uma volta, pra fazer uma caminhada e, numa sexta-feira, de sentar como uma legítima goiana, na calçada de um boteco pra apreciar (viu?) uma boa cerveja.

Tenho a impressão (acho que a palavra ideal seria ILUSÃO) nesses meses de horário de verão que tenho mais tempo. Besteira! Bullshit! N'importe quoi! O negócio é que eu eu durmo tarde MESMO. Como chego em casa com o dia claro, meu cérebro surta achando que é cedo e acha que tem tempo pra aquele livrinho, para o programinha da TV de madrugada e aí já viu, né? Conclusão: mesmo com sono, vivo mais no horário de verão.

Bom, tudo isso pra dizer que admito a confusão de sentimentos que o horário de verão me desperta: odeio quando começa, suporto nas primeiras semanas, adooooro depois que meu corpo se habitua a dormir pouco, fico triste quando sei que vai acabar e RADIANTE quando penso que vou voltar a dormir uma hora a mais. Alguém entende? No fim, penso que minha vó é quem tinha razão: isso não é coisa de Deus não!

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

A menina que vive em mim

Essa música do Ney Matogrosso, Lema, é tudo que eu sempre quis falar sobre maturidade, esse presente que os anos nos deixam! Eis o meu lema:

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Irritando Aline Leonardo


- Alô!


- Boa tarde! Meu nome é Aline Leonardo, sou repórter, trabalho em tal lugar e estou ligando pra falar com o sr. fulando de tal, sobre tal assunto.


- Aaaaah, tá. Sr. Fulano?


- É, ele pode me atender?


- Quem tá falando mesmo?


- Aline Leonardo


- De onde?


- De tal lugar.


- Aaaaah -, e ela repete o nome do departamento errado! Olha, ele tá terminando uma ligação. Ah, desligou. É sobre que assunto mesmo?

- (Rrrrrrrrrrrrr) Sobre isso, isso e isso -, eu digo, já impaciente.


- Ah, o ramal ocupou de novo D. Alice. Liga daqui a pouco?!



Gente, isso - que poderia ser respondido simplesmente com um "pois não senhora de tal, de tal lugar, vou passar a ligação ou não posso passar a ligação" - quase me tira do sério. Sou até bem paciente, mas isso ME IRRITA!!!!!
Mas, podia ser pior, bem pior se ela, com aquela voz de Barbie com insônia, se despedisse com o sucesso total dos pps que lotam meu e-mail e terminam sempre com "Beijo no seu coração" ou (eu juro que já recebi) "beijo de luz na sua alma." Aíiiiiiiiiiiiiiiiií seria o fim! Só o santo Profissionalismo pra me salvar!!!!
P.S.: NÃO ESTOU DE TPM!

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Yes, we can!


Fui duramente traída pela vida quando perdi minha mãe, há seis anos. Jovem aos 57 anos, magra, não bebia, não fumava, vivia uma vida tranqüila e andava 8 quilômetros por dia. Morreu no Dia da Independência do Brasil, assim, do nada. Mais tarde, fui apunhalada com a morte do meu irmão caçula, de apenas 24 anos, e por uma série de conseqüências - talvez as mais duras que eu já vivi - advindas disso. Mas, antes mesmo dessas tragédias pessoais, eu já colecionava algumas outras decepções e não foi com prazer que um dia entendi o significado real da palavra frustração. Enfim, como toda e qualquer senhora-todo-mundo, já vivi muitas coisas que poderiam me amargurar, vivi experiências dolorosas e muito difíceis de serem compartilhadas. Traições da vida que eu decidi perdoar, que resolvi encarar, esfregando com Omo e Kiboa as manchas que elas me deixaram.

Falo disso depois de ouvir a história de uma amiga distante que se revoltou com a traição do namorado e passou, ela própria, a trair. A nódoa que a traição deixou a fez desacreditar nas coisas boas, nas pessoas bacanas: pra não ser ferida, ela fere e vai assim perpetuando mágoas, encardindo ainda mais alma, se curvando sem lutar para a derrota. Saber disso me fez pensar sobre como as pessoas podem se ressentir tanto com a vida, a ponto de querer parar de viver. Entendo de dores, mas ainda me espanta a falta de fé. De fé no amor, principalmente!

Personagens humanos e fortes sempre me fascinaram e tudo isso me fez pensar no massagista Marcos Rodrigues, de 25 anos. Depois de muitas decepções amorosas, ele partiu para o ataque e, para tentar encontrar o amor da sua vida, resolveu espalhar pelas ruas de Campinas (SP), bilhetinhos com sua descrição e telefone. “Quero alguém que seja como eu”, disse ele para a reportagem do G1, com a qual me deparei em outubro do ano passado. "No currículo do românico que se diz “de aparência”, quatro namoradas e muitas desilusões. Com a última, ele calcula ter perdido R$ 10 mil. 'Eu comecei a pagar o aluguel dela, marcamos casamento e ela sumiu', diz um trecho da reportagem. Quer prova maior de confiança na vida?

No (ótimo) Comer, Rezar, Amar, a escritora Liz Gilbert conta a viagem feita pela Itália, Índia e Indonésia, na tentativa de se encontrar depois de um divórcio difícil. Em seu relato sincero, percebemos que o trajeto mais importante que ela fez foi pra dentro de si mesma quando, enfim, se perdoou e perdoou os caprichos da vida. Gosto de gente assim.
Já falei aqui da minha síndrome de Pollyana, mas acho que mais que a minha confiança irrestrita de que as coisas sempre terminam comme il faut, conta muito pra fortalecer esse meu jeito de ver a vida o meu ENORME instinto de sobrevivência. Preciso superar as dores, preciso passar pra frente, preciso urgentemente me adaptar SEMPRE porque, se a questão é viver, aí só vale se for pra ser bem FELIZ!