quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Meia volta

Como todo mundo, passei por grandes revezes na vida, mas, como boa brasileira, fui me adequando daqui e dali pra seguir inteira. O problema é que, muitas dessas coisas, empoeiram nossos sonhos. Comigo não foi diferente. Pelo menos até eu decidir a dar meia volta.

Depois de me dar conta de que perseguia alvos errados, peguei, ainda ofegante, os caminhos que tinha deixado para trás, num processo lento, dolorido, mas muito compensador. Comecei a fazer opções que me devolviam aquilo que antes era incogitável. Qualidade de vida, tranquilidade, paz de espírito e tempo, principalmente tempo, me mostraram que ser competente e fazer bem aquilo que nos propomos não vale a família, os bons momentos com amigos e, ao contrário do que possam imaginar, te tornam uma profissional mais humana. Então, devagarinho, fui encontrando meios de priorizar o simples e foi assim que as coisas que importam, enfim, começaram a tomar assento na minha vida.

Mas, até chegar aí, perdi muitas coisas. Convivi menos com gente a quem gostaria de ter me doado mais. Perdi tempo, o precioso tempo, com as pessoas que amo e comigo mesma. Me desgastei por nada. E, volta e meia ouvia aquele alerta interno: será que perdi também a chance de ser mãe, de ter minha família, será que fui tonta o suficiente para não perceber que caminhava para lugar algum?
Diferente da imagem que passo para muitos, quem me conhece muito bem sabe que uma das grandes realizações da minha vida era formar minha família – sonho que atropelei durante anos e anos, cega por falsas expectativas com relação à carreira e à profissão. Pouquíssimos sabem, entretanto, que por mais speed que eu seja, gosto mesmo é cuidar das coisas da casa, de cozinhar, preparar a mesa, fazer prazer para as pessoas que eu amo assando um bolo ou qualquer coisa assim.

Nos dias de hoje, não poderia me dedicar apenas a isso, mas já causei muito espanto por aí assumindo (reparem no verbo) que se pudesse criaria galinhas, plantaria hortas, passaria horas num jardim e finalizaria minhas tardes lendo livros, antes que chegasse a urgência boa de preparar o jantar da minha família. É tão ordinário, tão banal e, contraditoriamente, tão raro tudo isso que fica fácil compreender as incrédulas expressões das minhas amigas do século 21. Difícil foi admitir isso pra mim mesma. Pra mim, que corri tanto para o lado oposto.

Cheguei a pensar que eu não teria um filho ou que, se tivesse, ele seria fruto de planejamento ou de um desses tratamentos de fertilidade. Mas, pra minha grande felicidade, numa das curvas que fiz vers moi même, tive a chance de saber que vou ser mãe de um menino, de um bebê que chegou como quem não quer nada, filho de um amor tranquilo, maduro. Um menino que veio junto com a construção dessa palavra família, que recebeu demãos de tinta dourada esse ano e, mesmo deslocada do meu sonho idílico de galinha-horta-jardim, é minha razão de viver.

Agora mesmo, divagando sobre tudo isso, meu filho chutou minha barriga. A sensação é que não é ele, mas a realidade que me cutuca: ei, você vai ter um filho! Sempre que isso acontece, me dou conta de que o fato é tão, mas tão importante, que me cala, põe ponto. É como se fosse mesmo necessário muito silêncio e reflexão para entender como é que cabe tanto amor numa barriga, nas expectativas, no sonho, na emoção de imaginar o rostinho desse menino que me fará mãe.

E é como se, só por existir, esse bebê personificasse um ritual marcante do nosso casamento, quando o padre nos fez girar no sentido anti-horário, simbolizando nossa entrada no tempo de Deus, onde não são as nossas vontades que imperam, mas algo muito maior, que nos reduz a simples instrumentos do sublime.

Meu filho nascerá no fim de janeiro do ano que vem e se chamará João. O nome, de origem hebraica, significa Deus é gracioso ou Deus é bondoso. Estou certa de ninguém mais do que seu pai e eu temos razão para acreditar que, sim, Deus é bondoso!

18 comentários:

Cássia disse...

Que texto lindo, Aline. Estava sentindo falta deles. Me emocienei, me arrepiei e também me identifiquei com muitas de suas palavras. Também fiz tantas escolhas erradas, dei tantas voltas me afastando do que para mim também era essencial. Mas felizmente, nos restou tempo de nos reconduzir. Ah, e sim.. eu também muitas vezes, gostaria de criar galinhas, plantar horta e apenas preparar o jantar. rs Meu antigo blog, Almofariz, anda às moscas. Um dia eu o retomo - espero. Nesse ínterim, criei um outro para mamães e sobre coisas de bebês. Anda meio largado também, mas aproveito e compartilho o link com você. Talvez te interesse, afinal, você agora está no time!

Claudiene Finotti disse...

Oi Aline!
Engraçado, semana passada sonhei com vc, olha que maluco, já que nunca nos vimos. Menina, é tão doido isso que vou ter que mandar um e-mail agóóóra.

Lê e me responde, please!

Bjus.

Clau

Luisa Dias disse...

Sentimos sua falta, mas entendemos que este momento é único e deve ser vivido, assim, em sua plenitude... Amiga, que o João seja sempre sua meia volta, seu guia, sua bússola para encontrar o que é necessário. Gde bjo!

Caroline Motta disse...

Amiga querida, sua forma de escrever me inspira e me contagia de tal forma que vc nem imagina! Estamos sintonizadas na felicidade, mesmo que em momentos diferentes da vida, e tbm sintonizadas nesses perrengues da dia-a-dia que jamais mudarão nossa forma de ver a vida, de dar valor as coisas certas e de sermos simplesmente felizes em nossos momentos apaixonados! rs,rs... Me identifico muito com vc e dá um gosto danado de bão ver essa felicidade toda estampada na sua cara, contando cada novidade das coisinhas de bebê, dos ‘toy art’ do João, da reforma da casa... Desejo para vc, de coração, a mesma felicidade e plenitude que busco pra mim mesmo! Te adoro!

Cristian de Almeida disse...

Ja a algum tempo vinha sentindo falta de seus escritos, dia desses descobri o motivo, tio Rimene me contou tudo :-)
Desejo a ti minha querida toda a felicidade do mundo e saude pra tua família, que o João venha em Janeiro trazendo não só um ano novo, mas uma vida nova e cheia de esperança..
Ano que vem estarei mais perto, quem sabe rola uma visita ??
Bjaoo !!

Gra Porto disse...

Eu?
Chorando né? Como não chorar diantes de palavras tão lindas?
Bjos pro João e pra vc!

Unknown disse...

Aline,

parabéns pela gravidez, que Deus abençoe vc, o João e toda sua família!

Obrigada por seus textos! Eles despertam em mim sensações e sentimentos muitos gostosos.. parece que vc diz coisas que eu sinto mas não saberia explicar...

Obrigada!!

Tatiana

Unknown disse...

Lindona,
Toda a sorte do mundo pra vc, pro João (nome que eu AMO, diga-se!) e pro pai dele. Amor vocês já tem à vera! Super beijo, Letícia.

Anônimo disse...

Nina, eu também faço parte dessa turma de admiradores que estava sentindo falta dos seus belos, intrínsecos, emocionantes e amorosos textos. Quando vc compartilha tudo o que vem de dentro de vc conosco, sentimos que também era isso que queríamos dizer e não saía. De repente vc senta numa cadeira e escreve essas maravilhas que nos deixam mais apaixonados por vc.
Muitas saudades do Marco e de vc. Amo-os. João que se prepare...VOU AÍ VISITÁ-LO EM JANEIRO OU FEVEREIRO.QUERO OLHAR NOS OLHOS DELE.
Fiquem com Deus.
Beijos, MariLena

Gestão de Escritórios disse...

Saúde e felicidade Divina... pra toda essa família que se controe.
Abraços.

Geikla disse...

Divino!!!
Adoro tudo o que vc escreve.

Louise Tommasi disse...

Muito lindo tudo o que vc escreve. Publiquei um livro em 2007 e escrevi justamente sobre esse desejo de constituir uma família, sonho que vai sendo atropelado pela vida exigente, se não nos dermos conta.
Parabéns.
Louise

QuarterST disse...

Oi :)Tudo bem?
Faz um favor? Vota na @quarterock no Multishow? Tá explicado direitinho aqui http://migre.me/4sgz4 *-* bjs :*
Mari
@QuarterST

Anônimo disse...

teste... teste!!!

Anônimo disse...

Que texto lindo! Digno de um novo texto contando sobre a chegada do João, que já deve estar um garotão! Só para saciar a vontade destes leitores de mais belas palavras e boas novas. Adorei a forma como você escreve, pena que o blog está abandonado.
Paula Coêlho

Unknown disse...

Tudo isso é muito bonito, pricipalmente porque seu sonho se tornou realidade. Espero que Deus abençoe a João e os ajudem a ensina-lo bem as coisas da vida. Vale a pena dar meia volta e fazer o que é certo, mesmo que isso nos faça perder um pouco de tempo. Que bom que conseguiu ver tudo isso a tempo. Um abraço!

Edificarte disse...

Boa tarde
Alinee... Realmente que texto lindo, e emocionante. Acredito que todos que lerem vão se identificar em meio as próprias histórias, pois, ao direcionarmos para um caminho que se afasta de nossas essências, principalmente a que Deus nos concebeu, é que como se formasse um vazio, e este vazio muitos acreditam que possa preenche-los sozinhos. Parabéns pela iniciativa e coragem de mudar, e mudar para melhor, e assim, nasce mais vidas, não só a de seu filhote, mas a vida que renasceu em você e a via de seu esposo. Que Deus ilumine e proteja sempre sua familia que os principios do Senhor sejam a base da Estrutura familiar e assim nunca será abalada. .Fiquem com Deus, Jesus Cristo e o Espírito Santo de Deus.

Edificarte disse...

Olaa bom dia
passando para deixar um alô.
Fiquem com Deus toda família.

Quando der visite o meu blogger.

abraços
Jesus Cristo te Ama.