segunda-feira, 23 de março de 2009

O padre, o espiritismo e a Santa


Outro dia, com toda a minha característica intempestividade, falei mal - e não me arrependo - da Igreja Católica no episódio do aborto da menininha de Recife. Pois olha eu aqui de novo, desta vez para elogiar. Hoje fui à Irradiação Espírita, que atualmente frequento menos do que gostaria, e, para minha surpresa, na hora da palestra, vi sendo anunciado o padre (!) Alcides Lima.
- Padre, na Irradiação Espírita?! - Meu irmão e eu nos entreolhamos surpresos.

Pois é. O Padre Alcides foi convidado a falar sobre a família e demonstrou uma sensibilidade enorme ao discorrer sobre a sua vida pessoal, sua família baiana de 15 irmãos, a educação que recebeu, sem se esquecer do novo modelo de família que tem se formado: aquela feita por mães solteiras, tias, pais e mães de filhos diferentes, filhos sem pai e etc. Fala simples, sincera e iniciada com um carinhoso e respeitoso "caros irmãos espíritas." Mas, até aí, nada de surpreendente, fora o fato de ele ser padre e ter aceitado participar do culto.

Confesso que, depois de receber o passe, fiquei observando o comportamento do padre. Quem já foi a um centro espírita sabe que, nesta hora, uma música suave é colocada e a luz é reduzida para estimular a reflexão. Eu, que esperava vê-lo um pouco deslocado ou constrangido, vi um homem com as mãos cruzadas e apoiadas na testa, numa clara posição de reflexão e oração. Depois disso, na hora da prece final, ele se levantou da mesa e, espontaneamente, interrompeu a oradora e, quase como encantado, pegou o microfone e levou muitos de nós às lágrimas com uma oração profunda, confortadora e tão simples!

Eu não conhecia o padre Alcides, mas ele conseguiu me encantar. Na sua fala, ele contou que 12 horas após ter sido ordenado padre, foi procurado por uma mulher alta, negra e bonita que, na bucha, lhe disse que era prostituta, mas que precisava comungar. Ele, então, pediu a todos os santos que o aconselhassem, mas se deixou levar pelo amor.

- Minha filha, qual é o seu nome?, ele resolveu perguntar.
- Santa -, ela respondeu.

Ele não verbalizou, mas eu entendi bem que, com isso, o padre também compreendeu que o sagrado é amar, indistintamente.


7 comentários:

Andrea Regis disse...

Lindo, sensível, brilhante. re

Deire Assis disse...

conheço o padre alcides.

a questão é que tolerância e amor não tem necessariamente a ver com credo, religião. tem a ver com caráter, com humanismo...

tava com saudade de te ler.

bjo!!

Unknown disse...

Estou sem palavras. Sou espírita, e confesso que me emocionei muito com esse ato do padre Alcides. Mostra que, se quisermos, podemos transpor as barreiras das "ditas religiões" e nos unirmos em um amor universal, fraternal.
Kelly Geanne

Anônimo disse...

Aline, obrigada pela visita no blog e também pelo almoço. Temos que marcar outro. Em tempos em que amar pode ser considerado pecado, é bom ler algo assim, é bom saber que ainda existem pessoas exatamente assim... Bjo gde! Luisa (http://desafiodeser.blogspot.com)

Plenitude do Ser disse...

Oi! Mto prazer, mas muito prazer mesmo em conhecer vc e esse seu blog maravilhoso!! Vc estabece um diálogo simples, direto e divertido, entre vc e seus visitantes. Adorei estar aqui!

Qto ao Padre, é muito bom saber que já está acontecendo essa interligação e que a igreja de certa forma está se "espiritualizando" (com exceção do episódio da menina). Também sou espírita e muitas vezes assito ao Padre Fábio na Canção Nova e fico encantada com a forma que ele lê o mundo e os acontecimentos...pra ficar melhor ainda, como seria bom se derrubassem esse enorme muro de preconceito e mistificações que ainda existe em relação ao espiritismo... mas seu relato, já me dá grandes esperanças qto à isso!

beijinho,

manu

Plenitude do Ser disse...

ah.. deixei um comentário tbém em um post mais antigo "Yes, we can" ok?

Bj

CARLOS SOUSA disse...

Recebi teu texto de uma amiga em comum, e resolvi dar uma bisbilhotada em teu espaço. Muito Bom! Vou fazer a indicação deste post em meu espaço se não te importares.
Abraços!!
Carlos