quarta-feira, 19 de maio de 2010

O florista

Minha mãe tinha nojo de dinheiro. Pegava nas notas com a pontinha dos dedos, como se fosse lixo, fazia careta e não perdia a oportunidade de dizer que aquilo era muito anti-higiênico. Com os cartões de débito, pegar em dinheiro é coisa cada vez mais rara. Pelo menos pra mim. O tal cartão mudou completamente meus hábitos. Dou preferência para os estabelecimentos que têm a maquininha e, muitas vezes, deixo de comprar coisas em feiras (onde o recurso já está bem difundido, aliás) ou pequenas lojas porque os comerciantes não aceitam o cartão de débito. Com isso, nem sempre me preocupo em passar no caixa eletrônico e descontar dinheiro.

No Dia das Mães, a caminho da casa dos avós de meu namorado, passo com ele num grande supermercado para que ele pudesse comprar flores para sua mãe, avó e tias. Por volta do meio dia de domingo, já não havia nada. Resolvemos, então, tentar uma floricultura perto de casa, na Avenida Assis Chateaubriand. Encomendamos as flores e, na hora de pagar, o rapaz nos informou que não aceitava cartão de débito ou crédito. Nos dispomos, de imediato, a voltar e descontar dinheiro num caixa eletrônico, mas, pra nossa surpresa, ouvimos o homem dizer:

- Nenhuma mãe vai ficar sem flor por causa disso! Passem aqui amanhã e paguem.

Nos oferecemos para deixar algum documento ou algo assim. Ele se recusou a receber e disse que confiava na gente.

Saí de lá com a sensação de viver numa sociedade diferente, onde as pessoas são tratadas como gente de bem. Coisa tão difícil hoje em dia apostar no melhor das pessoas. Me senti grata a ele mais pelo gesto do que pelas flores. Depois, fiquei pensando se é o fato de viver perto delas que faz aquele homem simples esquecer as verdades desse mundo e, com isso, se permitir floreá-las. Talvez ele seja como minha mãe, que também tinha o dedo verde e preferia sujá-lo com terra.


Ps.: Ontem, a apesar de não ser nenhum dia especial, recebi flores da mesma floricultura. Fiquei feliz de saber que meu namorado se tornou cliente. Hoje, ele volta lá novamente para pagar. O florista não tinha troco.


3 comentários:

Luisa Dias disse...

Estas flores, com certeza, foram mais românticas por isso... E encontrar gente assim é um presente!

Gra Porto disse...

Saber que existem pessoas assim, faz a gente pensar q td realmente vale a pena!
Esses dias fiquei devendo R$ 2,00 no cachorro quente, depois o msm valor na padaria....td acertado já, rs.
Bjoo

Anônimo disse...

Atitudes como essa mudam nossas vidas!