quinta-feira, 24 de julho de 2008

Azul da cor do mar

Tive a sorte de viver numa famille d'amour, como dizem os belgas. Cresci amparada por pais apaixonados, num lar de verdade com amor que se trocava fácil, com carinhos inesquecíveis e imprescindíveis como o beijo de boa noite, a coberta ajeitada na cama, almoços e jantares bem no estilo família de margarina. Sorrisos, broncas cheias de amor e fins de semana que começavam depois de Se meu fusca falasse...

Nosso cotidiano era construído com pequenos gestos gentis seguidos de um simpático "obrigadim tim tim...", de colos, de pratos preferidos, de pequenos mimos e isso tudo me fazia acreditar firmemente que a felicidade morava naquela casa azul da praça, onde se tocava bolero aos domingos, num tempo em que segurança era estar a salvo de pernilongos debaixo de um mosquiteiro rosa que o pai vigiava como um herói.

Lembro como hoje de quando meu pai viajava a trabalho e minha mãe recebia seus bilhetes que terminavam sempre e incondicionalmente com a frase SAUDADE É UMA PARTE AFASTADA DA OUTRA PARTE QUERIDA. Quando ainda morava fora do Brasil, recebi do meu pai uma carta com o mesmo final e isso, de alguma maneira, me fez acreditar em futuro. Não restava muito mais da casa azul, mas algo muito forte sobrou disso e, depois, ninguém esquece um endereço assim.

Um comentário:

Andrea Regis disse...

Eu sou uma parte afastada de tantas partes. Nem preciso dizer que a frase me tocou profundamente...

Beijos!