segunda-feira, 14 de julho de 2008

Batatinha quando nasce se esparrama pelo balcão...

Amo café da manhã! Aliás, acho que durmo já pensando em acordar, só pra tomar um bom café. Mas, um bom café sem um jornal, não é um bom café. E, como nesse último sábado eu estava sem computer, sem net e, consequentemente sem jornal, decidi ir tomar café na padaria da esquina da minha casa. Sentei no balcão, pedi o café, um pãozinho aquecido na chapa com presunto e queijo, comprei o jornal e fiquei por ali...

Descobri que a moça do balcão, que sempre me entrega o pão com um sorrisão no rosto toda manhã, é chamada curiosamente de Batatinha pelos clientes da casa. Negra, de corpo atarracado e uniforme azul e cinza bem passado, ela é daquelas que trazem no rosto uma meiguice e uma doçura do tipo original de fábrica.

- Quer com muita manteiga?, ela me perguntou com ar de quem quer agradar, enquanto eu a observava.

- Não. Prefiro com o mínimo de manteiga possível!, eu respondi, mas sem coragem de dissuadi-la a colocar menos presunto no pão. Afinal, eu já a tinha espantado recusando o açúcar e o adoçante que ela me oferecera para o café, que bebo sempre amargo.

Enquanto ela preparava um sanduíche para uma moça alta e corpulenta, a quem ela chamou pelo nome, chegou um moço pálido, com óculos de grau antigos, camisa pólo vermelha e azul e andar preguiçoso. De cara, ela observou:

- Tá pálido hoje fulano! - E bastou isso para que ele se sentisse estimulado a falar sobre uma tal cirurgia.

E o rapaz foi falando de seus medos, do resultado do exame que não deixava clara a regressão da doença, enquanto Batatinha respondia a tudo repetindo as últimas frases do cliente.

-Vou ter de internar na segunda pra ver. Mas, se o exame não der negativo, vou ter de operar de novo.

- Ah, meu Deus, operar de novo né?

-É. Senti muita dor de ontem pra hoje, mas tomei o remédio que o médico mandou, levantei umas duas vezes à noite, mas já estou melhor.

- Tá melhor, né? Graças a Deus então -, respondia ela se abaixando para limpar o balcão ou preparar mais um café.

O que era evidente, nesse diálogo banal num sábado de manhã, era o ar de prestação de serviço, como se aquela conversa toda fosse um extrinha qualquer, como pegar mais açúcar ou aquecer mais um pouco o copo de leite. E assim o diálogo foi correndo. Percebi que a moça não absorvia tudo o que o pobre rapaz dizia, mas que ele ia ganhando cor a cada gole de leite com café quente.

Batatinha não escutava tudo o que ele dizia, mas à sua maneira, dava a ele uma atenção que, naquele momento, em meio a tantos pães na chapa, capuccinos e catchups extras, parecia milagrosa. Pude ver ali, naquela moça, que caridade fast food tem o mesmo sabor de um bom café... e que não custa mais do que isso. Lição de Batatinha, que nesse caso, se esparrama pelo balcão!

5 comentários:

Rimene Amaral disse...

Gostei. Me deparo muito com isso no dia-dia e fico prestando atenção também. De vez em quando até dou opinião... Não aguento! Acho que posso ajudar, vou lá e falo.
Só uma coisinha: a batatinha quando nasce, não se esparrama pelo chão. Ela fica debaixo da terra. Todo mundo entende o versinho errado. Então, o certo é: "Batatinha quando nasce ESPALHA A RAMA pelo chão...", Tendeu?

Deire Assis disse...

q lindo post, aline... deu vontade de tomar café com Batatinha...

bjo e boa noite!

Andrea Regis disse...

Sou da turma do Rimene. Falo sim! Se gosto da pessoa e vejo que tá numa enrascada, até dou bronca se tiver espaço. Não é por acaso que escolhemos comunicar profissionalmente.... Hehehe...
Beijo!

Unknown disse...

Que bom seria se todos nós tivessemos Batatinhas, né Aline!

Beijo grande!

Anônimo disse...

Muito boa essa crônica, Aline. Os franceses têm há muito tempo esse hábito de tomar o café da manhã fora de casa, nos "Cafés", claro. rs Aprecio muito isso.Gostaria de fazê-lo frequentemente. São ocasiões maravilhosas para observar pessoas e fazer anotações imaginárias úteis em boas crônicas do cotidiano, como essa. E gostei muito do trocadilho também.