domingo, 22 de junho de 2008

Teoria do Cipó

Uma prima foi comigo ao parque com seu filhinho, de 5 anos. Vendo o menino correr e com medo que ele atravessasse a rua, ela gritou: - Volta aqui ou o homem mau vai te pegar!, ou algo do gênero. Culpada, ela se vira pra mim e justifica:

- Com meninos (sexo masculino) tem de ser assim. Não sou de acordo com esta política do medo, mas às vezes sou obrigada a lançar mão desse recurso para fazê-lo parar.

A cena me fez pensar imediatamente no meu avô, de longe o personagem mais interessante que já conheci e que põe abaixo todas as teorias modernas sobre a educação. Psicologia nunca foi o seu forte e ele passava longe daquilo considerado hoje como politicamente correto. Me lembro com clareza – apesar de na época eu usar ainda aquelas calcinhas com babadinho no bumbum - do dia em que ele resolveu tomar uma atitude drástica, quando constatou que, apesar de suas broncas freqüentes, nós (os netos) não deixaríamos de brincar na areia que ele usaria numa reforma da casa.

Não vimos quando o velhinho barrigudo, de olhos bem azuis, cabelos castanhos bem lisos e que vestia camisas sempre queimadas por faíscas de cachimbo voltou com o revólver na mão e deu dois tiros pra cima. Até hoje dou gargalhadas quando lembro o estado em que eu entrei em casa gritando pela minha mãe e dizendo que meu avô queria nos matar! Não me recordo ao certo quanto tempo durou, mas posso apostar que na tarde desse mesmo dia, nós já estávamos todos lá, enterrando nossos pés bem fundo naquela areia amarela e fina.

Essa foi só uma de suas histórias, mas ele já me deu surra de cipó tentando controlar meu gênio de menina mimada que jogara longe as balas que ele gentilmente me oferecia porque elas não eram da marca que eu gostava. Já correu atrás de mim com um cinto - mais por brincadeira do que por raiva - porque eu lhe presenteei com lama numa vasilha bonita que peguei emprestada na estante da minha mãe. Já deu broncas astronômicas nos meus primos e não era raro ele dependurar um mais teimoso de cabeça pra baixo por alguns minutos.

Uma vez ele flagrou dois dos meus primos roubando doces e, calmamente, pediu aos dois que entregassem um bilhete ao delegado da pequena cidade onde ele morava. Enquanto escrevia, diante dos dois com olhos arregalados, ele ia recitando alto e pausadamente o que escrevia: “Peço gentilmente ao senhor, caro delegado, que prenda os portadores deste bilhete por furto de doces e por desrespeito ...” e por aí e ia. É certo que ele se divertiu mais que os meus primos que, por outro lado, nunca mais foram surpreendidos na despensa.

Mas, nada disso NUNCA significou trauma para qualquer um dos meus primos ou pra mim. Nós éramos AMADOS. E, essa sutilidade do saber-se amado - apesar de respeitar tudo que dizem os especialistas de hoje - eu não troco por nenhuma teoria metida à besta

Um comentário:

Demas disse...

Aline,
assino embaixo.
Beijo